Saúde única e a atuação do Sesc Pantanal

Reservas de biodiversidade são fundamentais para integrar e manter o meio mais favorável à nossa existência. Após toda a humanidade atravessar momentos críticos da pandemia da Covid-19, ficou ainda mais evidente o poder imperativo da natureza. Como parte dela, estamos diretamente conectados, independente da localização geográfica. Portanto, uma ação que prejudica o meio aparentemente externo, reflete negativamente na vida humana, seja no mesmo instante ou ao longo do tempo.
Nesse sentido, da mesma forma que temos uma importante força (auto)destrutiva, temos um incrível poder regenerador capaz de impactar de forma positiva o ambiente, beneficiando as outras formas de vida e também as futuras gerações.
Reconhecer essa grande teia viva e dinâmica nos conduz à ideia de um conceito fundamental ao entendimento do novo tempo em que estamos, a saúde única.
Essencialmente simples, a definição de saúde única tem como base a relação direta entre a vida humana e o ambiente, isto é, só podemos ter uma vida saudável se o ambiente em que vivemos também estiver saudável.
Em termos práticos, como podemos ter saúde se não tivermos acesso à água potável? Como garantir segurança alimentar se o solo ou a água estiverem poluídos, degradados? Como uma criança pode desenvolver habilidades motoras e cognitivas sem brincar ao ar livre, em contato com a luz do sol, em meio à natureza?
De acordo com a bióloga e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Márcia Chame, a saúde única é um processo estratégico necessário para que a sociedade atinja um desenvolvimento sustentável, justo e educativo.
“Esse conceito nasce entendendo que a busca pela saúde integral, que é a saúde única, só será possível se os diversos conceitos, ações e atividades forem integradas porque todos nós estamos interligados de alguma maneira. Não existe saúde humana distinta ou desconectada do lugar onde nós moramos, dos alimentos que nós consumimos, portanto, essa integração é bastante importante”, disse.
Para a pesquisadora, é preciso pensar como vemos essa integração entre humano e ecossistema ao longo da história. Se somos parte da natureza, a saúde, portanto, é uma só.
O caminho fundamental para promovê-la é garantir reservas de biodiversidade, ou seja, a riqueza de diferentes formas de vida que compõem o equilíbrio dinâmico do arranjo complexo entre clima, solo, rios, mares, ciclos dos nutrientes e tantos outros processos que mantém o meio mais favorável à nossa existência.
A maior reserva privada de biodiversidade no Brasil hoje está sob os cuidados do Serviço Social do Comércio – Sesc, na forma de uma unidade de conservação denominada Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Sesc Pantanal, localizada em Barão de Melgaço, Mato Grosso. Apesar de ser uma gestão privada, os benefícios gerados são compartilhados com toda a sociedade, porque a RPPN Sesc Pantanal contribui para riqueza e abundância de espécies da fauna e da flora, protege recursos hídricos, reduz possíveis impactos extremos das mudanças climáticas, mantem solos férteis, dentre tantos outros serviços dos quais usufruímos gratuitamente.
Não menos importantes são os benefícios ligados ao bem-estar, como a paisagem natural possível de ser contemplada e cenário para atividades recreativas, de descanso e relaxamento, os valores culturais dos fazeres locais, as memórias que o lugar guarda e que dão sentido à experiência daqueles que vivem no Pantanal e dos que o visitam.
Os reflexos da conservação da natureza são ampliados com o trabalho social de desenvolvimento comunitário, garantindo que as pessoas que vivem no local tenham mais oportunidade de acesso à educação, lazer, saúde e cultura.
Ao longo dos 26 anos de existência, o projeto que começou com a criação da RPPN se multiplicou em outras frentes de trabalho que hoje integram o Polo Socioambiental Sesc Pantanal, iniciativa do Sistema CNC-Sesc-Senac que é a referência para todo o Brasil no que diz respeito à inovação no campo da sustentabilidade e da governança responsável social e ambientalmente.
O Sesc Pantanal cuida, portanto de uma amostra relevante do bioma Pantanal e inspira tantas outras reflexões e, principalmente, atitudes que zelam pela saúde e permanência da vida humana e de tantas outras espécies, garantindo o melhor futuro que tanto queremos.