Imagine você ter presenteado sua família com um casal de lulu da pomerânia e, dentre seus planos, passar as próximas férias em uma praia do Caribe. A ideia é levar todos seus herdeiros em seu jato. No entanto, descobriu, em viagem anterior à mesma região, que os cães latiam sem parar e passaram mal durante o voo. Um desafio e tanto. Há solução? “Quem poderia me ajudar nesta questão?”, pensa você. Hora de acionar Luis Oliveira, ou, como é mais conhecido, Luis Estrelas, 50 anos.
Por enquanto o único lugar que recebe “filhotes” de personalidades que poderiam facilmente estar em situação parecida como a descrita acima é uma espaçosa casa no bairro do Brooklin, em São Paulo. Além de qualquer pessoa que se interesse em treinar seu cão, Estrelas atende personalidades da mídia como os cantores e compositores Paula Fernandes, Chitãozinho e Sandy; o empresário e DJ Alok; os atores Cláudia Raia, Reynaldo Gianecchini; os apresentadores Fausto Silva, Adriane Galisteu, Sabrina Sato e Ana Paula Padrão; além do empresário Jorge Paulo Lemann, sócio-proprietário da Ambev.
Estrelas, baiano de Iraquara, irmão de sete, residente em São Paulo, diz que desde pequeno vislumbrou trabalhar com animais. “Você quer ser o que quando crescer?”, perguntou uma professora ao adolescente na época em que os alunos começam a pensar em futuro. “Treinador de animais”; disse ele. “Isso não é profissão”, completou a orientadora. O tempo comprovou que ele havia entendido desde cedo qual missão deveria seguir.
“Aos oito anos fui mordido no rosto pelo cachorro de um parente. Fiquei muito assustado e tive a cabeça toda enfaixada. A partir daquele momento, decidi aprender a lidar com os animais, para que incidentes como aquele não acontecessem mais comigo, nem com os outros”, diz. Começou passeando com os pets e, pouco a pouco, especializou-se, há 35 anos, no tema.
Floquinho
Estrelas se tornou, inclusive, referência em animais de cena para filmes e publicidade. Ele soma 3 mil atuações nessas áreas. Dos mais conhecidos, podemos citar o lhasa apso que interpreta Floquinho no longa-metragem “Turma da Mônica –Laços”, de Daniel Rezende, e o beagle Pipoca, ícone dos comerciais da Net. Ao chegarmos à escola de treinamento Estrelas Animais, o treinador estava, inclusive, orientando uma cliente sobre o que seu pug faria na gravação daquela tarde em um estúdio na capital paulista.
Poucos, no entanto, conseguem levar seus filhotes pessoalmente à escola. Estrelas explica que a questão do transporte dos cães é recorrente na escola. O profissional diz que na Europa e nos Estados Unidos os tutores costumam levar seus filhotes em caixas de transporte. “No Brasil há dó em se fazer isso, portanto um treinamento adequado pode transformar uma viagem em um acontecimento tranquilo, sem estresse ou desarranjos”, disse quando visitamos a Estrelas Animais.
No primeiro andar da casa fica o hotel, onde os cães podem passar noites de paz tendo, sempre presente, um funcionário da casa. São 14 camas para os animais maiores, e 28 para os de pequeno porte, além de quatro suítes. “A maioria se hospeda aqui para o treinamento intensivo. Há cães do Brasil inteiro, e até de outros países”, diz. Dos que voaram de suas casas para São Paulo há indivíduos do Canadá e dos Estados Unidos. Já houve da Rússia. Será que se comportaram direitinho no voo, alguns desembarcados em jatos particulares? A ideia é essa, segundo Estrelas. A diária é R $300,00. “Sempre há o que melhorar. Por isso, uma vez que o tutor entende nosso trabalho não nos deixa mais”.
Comandos
Estrelas situa que não obriga nenhum tutor a estar presente em todas as aulas. “Entendo a rotina corrida dos clientes e exigir isso seria um empecilho. Faço, então, de uma forma que o animal respeite os comandos de qualquer pessoa, seja quem for. O cachorro, logo, não obedece apenas ao mestre, mas age com educação com todos ao redor, inclusive, na presença de outros pets. As aulas de socialização servem justamente para isso”, diz.
O adestrador usa duas formas de recompensa nos treinamentos, além dos petiscos, carinho e brinquedo. Ele diz que, dessa forma, o cão não fica tão vidrado na recompensa. “Quando você ordena uma tarefa, ele não olha para a sua mão ou o seu bolso (à procura do biscoito), e sim para os seus olhos. Creio que seja uma forma mais humanizada de domá-los”.
O luxo de educação para essas “crianças” inclui etiqueta em restaurantes e hotéis. Os tutores gostam de levar toda a família para uma refeição ou um descanso especial, e isso inclui os peludos. “Criamos a situação real, muitas vezes no próprio restaurante ou no hotel frequentado pelos familiares”, diz. Há casos também de treinamento para passeios em automóveis e helicópteros. A mensalidade custa R $4.000,00, e as negociações dependem do tipo de treinamento. Estrelas explica que evita cães reativos/agressivos. “Não é nosso perfil”, diz.
Curso
Xixi no lugar certo é uma das grandes aspirações dos tutores. “Se for filhote, consigo resolver esse problema em um mês, com aulas de uma hora de duração, duas vezes na semana. Se o cachorro tiver mais de um ano, ele também está apto a aprender, mas o processo é um pouco mais lento”, diz.
Para este 2023, há muitos planos. Ele deverá expandir sua escola até Orlando, nos Estados Unidos, para Minas Gerais e em outra região da capital paulista. Planejado, também, a ida de Matheus Oliveira e Joseph, campeão latinoamericano de canicross, a um campeonato na Suécia. As provas que os envolve chegam a oito quilômetros de subidas e descidas a uma velocidade de 30 quilômetros/hora. Joseph pratica esteira, natação e tem dieta balanceada.
Por fim, e não menos importante, uma imersão entre tutores e seus cães para exatamente facilitar o relacionamento entre humanos e seus “filhotes”. Há dois eventos preparados para isso. O primeiro será “Cão na Linha”. Presencial, acontecerá dia 24 de junho e no conteúdo do curso cinco temas:
*Comandos básicos, como “senta”, “deita”, “fica”, “vem”, “larga” e “não”, ou seja, a base do treinamento para ensinar como se comportar em diferentes situações;
*Comportamento social, que seria ensinar cães a se relacionar de forma adequada com outros animais e seres humanos, sem exibir agressividade;
*Habilidades para obediência é o momento em que eles aprenderão a responder rapidamente aos comandos, evitando, assim, comportamentos indesejados como puxar coleira e/ou pedir comida;
*Xixi no lugar certo é um clássico, e a ideia dessa aula é ensinar como se recompensa se o cão faz suas necessidades fisiológicas no lugar certo, além de como se deve usar fraldas e weasy bag;
*Gerenciamento de energia é orientar a prática de gasto energético, seja através dos passeios regulares, jogos de busca, brinquedos de estimulação mental e muito mais.
Cachorro cansado é cachorro feliz”, diz. Ao sair da escola de Estrelas a gente tem certeza disso.
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