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Pesquisadores da USP avançam em estudo para desenvolver vacina que pode diminuir infecções por febre maculosa no Brasil


Vacina estudada em pesquisa financiada pela Fapesp poderá controlar a população do carrapato-estrela, principal transmissor da doença, sendo aplicada em animais hospedeiros, como capivaras e cavalos. Quatro pessoas que participaram de evento em Campinas (SP) morreram por febre maculosa este mês. Carrapato-estrela é o responsável por transmitir a febre maculosa
CDC/ Dr. Christopher Paddock/ James Gathany
Após quatro pessoas que participaram do mesmo evento em Campinas, interior de SP, morrerem de febre maculosa, a Universidade de São Paulo (USP) divulgou que avança em pesquisas para desenvolver uma vacina que poderá controlar a população do carrapato-estrela, principal transmissor da doença. Esse controle se daria diante da imunização de animais hospedeiros, como capivaras, cavalos e bois.
Em entrevista ao g1, a professora Andrea Fogaca, que é associada do Departamento de Parasitologia do Instituto de Ciências Biomédica, da USP, explicou que o estudo é financiado pela Fapesp e já vem sendo feito há 3 anos.
O resultado do estudo revelou que a sobrevivência do carrapato após alimentação sanguínea em animais vertebrados depende de uma proteína que ele mesmo tem para impedir a morte de suas células. Assim, a pesquisa constatou que se os carrapatos não tiverem um número expressivo dessa proteína, morrem.
E é nesse combate à proteína que a vacina poderá exercer um papel fundamental na mira do transmissor. Por isso, pedaços dela, chamados de peptídeos, estão sendo produzidos pelos cientistas para imunizar animais silvestres. Vacinados, eles produzirão anticorpos que neutralizam a proteína do carrapato, o levando à morte e interrompendo a transmissão da doença para os seres humanos.
“Os carrapatos se alimentam obrigatoriamente de sangue de animais vertebrados, como cavalos e capivaras. Esse sangue que ingere, possivelmente, ativa a apoptose, que é a morte celular programada. Sem ter essa proteína, que é a principal proteína que controla a morte celular programada, o carrapato morre”.
“Então, o objetivo para gente é focar numa estratégia de controle da população de carrapatos por uma vacina. Ele tem um papel fundamental na transmissão, porque a bactéria que causa a febre maculosa só é transmitida pela picada de um carrapato infectado. Com a diminuição do carrapato, a gente diminui a chance de as pessoas serem infectadas pela bactéria”.
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O artigo dessa descoberta foi publicado em março deste ano na revista científica internacional “Parasites & Vectors’ e teve como primeira autora a pesquisadora Marcelly Nassar, que realizou o estudo para sua dissertação de mestrado. Agora, juntamente com a professora Andrea, que é a orientadora, a pesquisa segue para o doutorado de Marcelly.
“Importante destacar que a gente observou que todos os carrapatos que morreram tinham menos quantidade da proteína inibidora. Isso mostra que essa proteína é essencial para a sobrevivência do carrapato e, portanto, é um alvo muito importante no desenvolvimento de uma vacina, sendo muito promissor”.
Andrea explica que segunda fase do estudo está focando em vacinar coelhos. Os resultados devem sair no prazo de um ano e meio.
“Vamos imunizar os coelhos com pedacinhos dessa proteína para induzir a produção de anticorpos contra essa proteína do carrapato nos coelhos. Depois, a gente colocará os carrapatos para se alimentar. Carrapatos, então, vão ingerir sangue que possivelmente vai ativar a morte celular e terá um anticorpo contra a proteína que controla esse processo”.
E a vacina para humanos?
Conforme Andrea, a vacina poderia ser aplicada nos seres humanos. Porém, diminuir a população de carrapatos combateria melhor a doença.
“Poderia aplicar em humanos, mas teria que ser regularizado pela Anvisa e isso vai uns anos pela frente. Mas não é nosso objetivo, porque o homem é um hospedeiro acidental no ciclo da bactéria e no ciclo do carrapato. Então, a bactéria que causa a febre maculosa e os carrapatos, que transmitem essa bactéria, não precisam do homem para continuar circulando na natureza”.
“O homem só acaba sendo infectado quando ele entra em um ambiente em que existe a presença de carrapatos infectados, mas o homem sendo hospedeiro acidental não justificaria uma imunização em massa, pelo menos. Talvez em áreas endêmicas, com números de casos muito elevados. O objetivo é diminuir a quantidade de carrapato na natureza e, para isso, a gente precisa imunizar os animais, como cavalos bovinos”, ressaltou Andrea.
Bactéria que causa febre maculosa
Carrapato-estrela é o hospedeiro da bactéria que causa a febre maculosa
Ministério da Saúde/Reprodução
A Rickettsia rickettsii, bactéria que causa a doença, é transmitida pela picada de carrapatos infectados. No Brasil, duas espécies transmitem a bactéria para humanos: o carrapato-estrela, utilizado no estudo, é o principal vetor, mas há também o Amblyomma aureolatum, que transmite a bactéria na região metropolitana da cidade de São Paulo.
Cientistas da USP explicam que a Rickettsia rickettsii costuma permanecer nas populações de carrapatos, pois coloniza os ovários, passando de uma geração para outra.
Mortes após evento
Três pessoas morreram após participar de festa em fazenda no interior de SP; causa da morte é febre maculosa
Reprodução/Instagram
A “Feijoada do Rosa”, realizada no dia 27 de maio na Fazenda Santa Margarida, no distrito de Joaquim Egídio, teve, em 2023, sua 22ª edição.
Três pessoas que já tiveram os exames confirmados para febre maculosa morreram no dia 8 de junho após sentirem sintomas como febre, dor e erupções vermelhas pela pele.
As vítimas são: Evelyn Santos, de 28 anos, que morava em Hortolândia (SP) e foi professora em faculdade de odontologia; a dentista Mariana Giordano, de 36 anos, da capital paulista, e o namorado da dentista, o empresário piloto de Fórmula C300 Douglas Costa, de 42 anos, de Jundiaí (SP).
Além delas, a adolescente de 16 anos, Erissa Nicole Santana, que também esteve na festa morreu na noite desta terça-feira com suspeita de febre maculosa. O Instituto Adolfo Lutz confirmou o diagnóstico da doença nesta quinta-feira (15).
O pai de Erissa tem uma empresa que presta serviços de ambulâncias e brigadistas. À EPTV, afiliada da TV Globo, um funcionário dessa empresa contou que o pai de Erissa foi até o local para levar uma bolsa de material com medicações, e, como de costume, a esposa e a filha o acompanharam durante a noite.
Ele destacou, ainda, que o pai não tinha o costume de circular com Erissa pelos eventos pelo fato de ela ser menor de idade.
Alerta
A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo emitiu um alerta nesta quarta-feira (14) para que todas as pessoas que estiveram na Fazenda Santa Margarida, entre os dias 27 de maio e 11 de junho, e apresentem febre e dor pelo corpo, dor cabeça ou manchas avermelhadas pelo corpo, “procure atendimento médico imediatamente e informe que esteve na região”.
Dos 22 anos da “Feijoada do Rosa”, os últimos dez foram realizados na Fazenda Santa Margarida. O evento sempre reúne DJs de música eletrônica. O kit de ingressos para a edição deste ano tinha valores altos e incluía, além da entrada, que dava direito a comida e bebida, um abadá personalizado com a marca da festa. Os bilhetes chegaram a custar, na pré-venda, R$ 750.
22ª edição da ‘Feijoada do Rosa’, na Fazenda Santa Margarida, no distrito de Joaquim Egídio, em Campinas
Redes sociais
Diante dos casos, a Prefeitura de Campinas disse que a fazenda vive um surto da doença e que, por isso, ela só poderá fazer novos eventos quando apresentar um plano de contingência ambiental e de comunicação. A administração municipal explicou que a suspensão dos eventos não significa uma interdição da fazenda.
Em nota, a fazenda disse que sempre age de acordo com as exigências relacionadas à Vigilância Sanitária e que mantém um “rigoroso processo de manutenção e cuidados em relação ao espaço”.
“A Fazenda Santa Margarida se coloca à disposição das autoridades competentes para qualquer auxílio necessário na investigação desse triste acontecimento”, disse ao g1 Campinas.
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Sintomas da doença
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A doença pode demorar até duas semanas para se manifestar após o contato inicial. Conforme o Ministério da Saúde, os principais sintomas da doença são:
Febre;
Dor de cabeça intensa;
Náuseas e vômitos;
Diarreia e dor abdominal;
Dor muscular constante;
Inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e sola dos pés;
Gangrena nos dedos e orelhas;
Paralisia dos membros que inicia nas pernas e vai subindo até os pulmões, causando paragem respiratória.
O ministério ressalta que, além dos sintomas acima, com a evolução da febre maculosa, é comum o aparecimento de manchas vermelhas nos pulsos e tornozelos, que não coçam, mas que podem aumentar em direção às palmas das mãos, braços ou solas dos pés.
753 pessoas morreram por febre maculosa no Brasil entre os anos de 2012 e 2022. Os dados do Ministério da Saúde apontam que o país teve 2.157 casos confirmados ao longo de 10 anos, 36% deles registrados em São Paulo. Considerando apenas as mortes, municípios paulistas concentraram 62% do total (467 óbitos).
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