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Donos de hospitais defenderam fim do lockdown para lucrar com UTIs; aponta investigação

Nesta semana, o portal The Intercept Brasil divulgou trocas de mensagens relacionadas a investigados da segunda fase da Operação Espelho, onde mensagens trocadas entre médicos e donos de empresas que forneciam serviços de unidade de terapia intensiva para hospitais públicos de diversos municípios do estado do Mato Grosso defendiam o fim do lockdown para garantir lucros com UTIs. Em uma conversas citadas pelo The Intercept, o médico e empresário Renes Filho indica ao médico Gustavo Ivoglo que colocou pacientes em UTIs sem necessidade, por conta da ausência de enfermos provocada pelo lockdown.

Um dos trechos que o Intercept cita revela a formação de um suposto cartel para fraudar licitações, desviar dinheiro público e realizar pagamentos indevidos a servidores públicos. 

“Se o lockdown não acabar vai ser muito difícil manter a UTI cheia hein cara. Tá subindo uns pacientes lá que já já o pessoal vai questionar a gente do que esses pacientes estão fazendo lá (risadas)”, disse Renes.

Nas mensagens enviadas no ano de 2021, os médicos Gustavo Ivoglo, dono da L.B. Serviços Médicos, empresa que prestava serviços no Hospital Regional de Alta Floresta, da rede de saúde do estado, conversa com o médico e empresário Renes Filho.

“Ta dando um trabalho do cão pra deixar esses leitos ocupados, precisa ver o rolo que eu faço todo dia aqui, mas tá rolando com 100% de ocupação”, escreveu Filho. “aceita paciente sem muito prognóstico, pois infelizmente a gente precisa ter uma ocupação maior”, completou o médico.

A ocupação maior seria necessária para que os médicos lucrassem com a UTI em Alta Floresta, a 789 quilômetros da capital, segundo relatório de análise dos celulares dos suspeitos realizado pela Polícia Civil na investigação. O lockdown no município foi decretado por decisão judicial em 27 de março de 2021.

A investigação destaca que o cartel de empresas de serviços médicos investigado pela Polícia Civil ‘nasceu’ na cidade de Alta Floresta, quando duas das principais investigadas na Operação Espelho, se uniram para traçar estratégias e juntas, alcançar contratos no município. Com uma população estimada de 52 mil pessoas, segundo o IBGE. Alta Floresta registrou 18 mil casos de covid-19, segundo o Ministério da Saúde. Em março de 2021, quando os investigados traçavam estratégias para conseguir contratos no município, a pequena cidade no norte de Mato Grosso estava entre os 16 municípios com risco alto para a covid-19.

A Bone Medicina Especializada Ltda., liderada pelos médicos Osmar Chemim e Alberto Pires de Almeida, ganharam um contrato em Alta Floresta, o que causou fúria no grupo concorrente, de propriedade de Gustavo Ivoglo e Renes Leão Filho. Em conversas, os dois planejam denunciar eventuais mortes que ocorreram nas UTIs do grupo da empresa Bone Medicina Especializada e oferecer R$ 10 mil por mês para a diretora do Hospital Regional de Alta Floresta prejudicar a nova empresa contratada, de acordo com os investigadores.

“Oferece R$10 mil por mês cara. Fala: Renata, você entra com a gente porque esses caras são muito filh* da p*t* e vão fazer tudo errado e vai f*d** vocês. A gente dá R$ 10.000,00 por mês pra você me ajudar. Só fazer o certo, entendeu!?”, orientou Luiz Gustavo Ivoglo em áudio.

Em seguida, ele sugeriu para Renes, pertencente ao mesmo grupo empresarial, assumir o hospital: “Renes assume a direção técnica. Pago a Renata com dinheiro p COVID. Pede p ela pedir afastamento. Kkkk”, disse a mensagem enviada na madrugada de 26 de março de 2021.

Dois dias depois, porém, o problema foi resolvido. Em uma reunião entre Osmar Chemim e Gustavo Ivoglo, os dois grupos selam a paz. Com o acordo, os empresários do mesmo grupo em torno da L.B. passaram a administrar o Hospital de Alta Floresta, apesar da Bone ter vencido a licitação.

Na época, o governador Mauro Mendes, do União Brasil, foi crítico da política de lockdown desde que se iniciou a pandemia e chegou a dizer: “Nós nos dedicamos a abrir leitos de UTI. Por mais que isso custe caro, é muito mais barato abrir leitos e ter condições de atender a população do que fechar a economia, porque o dano que isso traz para a vida das pessoas é extremamente grande”. Nas conversas, a polícia também identificou menções ao governador, interpretadas como um sinal de aproximação entre o alto escalão do estado e os investigados. A polícia indica ainda que as propinas pagas pelos envolvidos eram em torno de 5% para agentes públicos.

Alguns dos hospitais regionais que contratavam as empresas do cartel pertencem ao governo do estado. No entanto, na mesma decisão que iniciou a operação, cuja primeira fase começou em junho de 2021, a magistrada expediu comunicado da decisão ao governador sobre a deflagração da primeira fase, que ocorreria no dia seguinte contra as empresas.

Mesmo assim, a empresa continuou recebendo por um mecanismo indenizatório, quando uma empresa presta serviço sem contrato com o estado e recebe por indenização pelos serviços prestados. O valor recebido foi de R$ 2,8 milhões entre julho de 2021 e fevereiro de 2023, conforme dados do Sistema Integrado de Planejamento, Contabilidade e Finanças do Estado de Mato Grosso.

Com informações do The Intercept Brasil

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