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‘Que seja feita justiça’: inocentes são vítimas em conflitos de grupos criminosos em Porto Alegre

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Apenas no primeiro semestre de 2023, 107 mortes relacionadas a conflitos de organizações criminosas ocorreram em Porto Alegre. Algumas das vítimas em 2022 não têm relação com o crime organizado. Inocentes são vítimas em conflitos de organizações criminosas em Porto Alegre
Dos 134 homicídios ocorridos em Porto Alegre no primeiro semestre de 2023, 107 foram mortes relacionadas a conflitos do crime organizado. Os casos, provocados por disputas pelo controle de territórios e outros aspectos relacionados ao tráfico de drogas no estado, correspondem a cerca de 80% dos homicídios na Capital.
De acordo com o levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o Rio Grande do Sul é o estado com o maior número de facções no Brasil: 15 das 53 organizações criminosas do país são do estado.
As disputas entre essas organizações criminosas têm levado medo à população do estado. Além disso, algumas das vítimas de conflitos armados não tinham qualquer envolvimento com o crime organizado.
Manoela, 17 anos
Manoela morreu após ser atingida por disparos no bairro Campo Novo, em setembro de 2022
Arquivo pessoal
Uma das vítimas, Manoela Yres Campos Trapps, de 17 anos, foi atingida por disparos durante um show de pagode organizado em um bar do bairro Campo Novo, na zona sul da Capital, na noite de 4 de setembro do ano passado. Quase um ano após a morte da adolescente, familiares de Manoela sofrem com as marcas daquela noite.
“Hoje em dia, ligação de noite para nós é um trauma. Toca o telefone, tu nunca espera, tu nunca acha que é coisa boa. Qualquer número diferente que te ligue, teu coração já dispara. Depois disso, tu nunca sabe o que vem atrás de uma ligação. A gente espera muito que seja feita justiça, porque não nos resta mais nada”, comenta a mãe de Manoela, que não quer ser identificada.
A morte de Manoela ocorreu após uma rajada de tiros interromper o show. Além da adolescente, a ação deixou outros dois jovens mortos, além de 23 baleados. Uma irmã de Manoela, que também não deseja se identificar, esteve presente no local dos disparos e relembra o momento do socorro a Manoela.
“Quando pegaram ela e botaram dentro da ambulância, a gente escutou. Ela puxava o ar e só pedia ajuda. A pior parte foi escutar ela pedir ajuda e a gente não ter como ajudar, não ter o que fazer”, lamenta a jovem.
De acordo com o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS), a ação foi coordenada por pessoas que estavam dentro do sistema penitenciário.
“Foi um crime extremamente brutal, grave. Ele foi determinado e consentido do interior da prisão, e executado por outros criminosos que estavam na rua e cumpriram essa ordem”, comenta Marcelo Tubino, promotor de justiça.
Edgar, 26 anos, e Eliezer, 12 anos
Edgar e Eliezer também foram mortos em setembro de 2022
Montagem / Arquivo pessoal
Em outro ponto da Zona Sul de Porto Alegre, duas vítimas sem conexão com o crime também morreram em setembro do ano passado. Edgar Rodrigues Lisboa, de 26 anos, morreu enquanto trabalhava em uma barbearia no bairro Cascata.
De acordo com as investigações, um homem armado desceu de um veículo, atrás de outro homem, que estava em frente ao estabelecimento. A perseguição terminou dentro da barbearia, atingindo Edgar e Eliezer Samuel Lucas, de 12 anos, que estava tendo o cabelo cortado pelo cabeleireiro.
A mãe de Edgar, Cleuza Rodrigues Lisboa, comenta que o filho tentou escapar dos disparos, mas retornou para proteger Eliezer, que estava na cadeira do salão.
“Quando ele foi correr, voltou e abraçou o menino. Infelizmente, nenhum dos dois sobreviveu”, lamenta a mãe de Edgar.
Cleuza ficou sabendo que o filho havia sido atingido ao ligar para o celular dele após moradores do bairro terem conhecimento da ocorrência. Uma mulher atendeu, comentando que era o celular de um ferido. Já no hospital, Edgar não resistiu aos ferimentos. Ele deixou um filho.
“A saudade é grande. Eu sei que não sou a única mãe que perdeu o filho nessa guerra absurda que está aí fora, mas a gente tem que ser forte e seguir, esperando uma justica”, diz Cleuza.
Foto de Cleuza e Edgar ainda está no celular da mãe
Reprodução / RBS TV
As ações do poder público
De acordo com a Polícia Civil, 79,8% dos homicídios em Porto Alegre no primeiro semestre de 2023 envolvem pessoas pertencentes a facções criminosas que são assassinadas por membros de outro grupo.
“Também não queremos que esse transbordamento de violência atinja pessoas inocentes. Que eu destaco: são casos raros, ainda, em Porto Alegre que atingem inocentes. Mas acontecem e nós queremos também evitar que isso aconteça”, comenta o diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa da Polícia Civil, delegado Mario Souza.
Investigações apontam que as organizações criminosas têm três principais fontes de financiamento: o próprio tráfico de drogas, o roubo de cargas e o roubo de carros de luxo.
“As mesmas organizações criminosas que atuam no tráfico de drogas e no homicídio têm braço em uma série de crimes patrimoniais, como roubo de veículos, roubo de cargas, roubo de caminhões ou extorsões mediante sequestro”, comenta a delegada Vanessa Pitrez, diretora do Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC) da Polícia Civil.
As ações, acrescenta Pitrez, são feitas pelas organizações criminosas para seja possível a capitalização necessária para a compra de mais armamentos e mais drogas.
Para Eduardo Pazinato, professor e associado do FBSP, uma das possíveis soluções para barrar o crescimento dos grupos criminosos é que o Estado atue não apenas como braço armado, mas também com ações sociais.
“Precisamos potencializar as políticas públicas de prevenção das violências, disputando cada um e cada uma desses jovens com o crime organizado através da manutenção em escolas e da oportunidade de formação socioprofissional e cultural”, comenta Pazinato.
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