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Automutilação entre adolescentes: pesquisa aponta motivações e acende sinal de alerta

A adolescência é uma fase cheia de descobertas e desafios para filhos e pais. Pesquisas apontam que adolescentes e jovens brasileiros, principalmente entre 12 e 30 anos, estão encontrando na automutilação uma forma de tornar física a dor emocional.

O distúrbio é caracterizado por machucados intencionais, que não são feitos com o objetivo de tirar a própria vida. Nas maioria das vezes, a dor do corte materializa sentimentos de vazio, tristeza, angústia ou raiva de si mesmo. Geralmente os machucados são superficiais e pequenos, em regiões que podem ser cobertas por roupas, como a parte interna dos braços e das coxas.

A automutilação é um indício de que algo não vai bem na vida do  adolescente ou jovem, e as possíveis causas incluem bullying, abuso (físico, emocional ou sexual) ou falta de suporte familiar. A automutilação também pode estar ligada à depressão, ansiedade ou transtorno alimentar.

automutilação entre os adolescentes

Confira as motivações para a prática de automutilação entre os adolescentes – Foto: Freepik/Divulgação/ND

Por isso, perceber as marcas decorrentes da automutilação nos filhos é importante. Mas ainda mais relevante é que os pais não minimizem ou considerem uma mera tentativa de chamar atenção.

A automutilação pode estar ligada à questões psicológicas tão sérias que, se não tratadas adequadamente, evoluem para situações ainda mais complexas. Por isso, é necessário buscar ajuda médica e psicológica para cortar o ciclo e frear os impactos negativos da prática.

Pesquisa traz informações sobre a automutilação

A pesquisa, coordenada pelo Antônio Augusto Pinto Junior, doutor em psicologia clínica e professor da UFF (Universidade Federal Fluminense) é intitulada como: Estudo sobre a Estruturação do Ego e da Personalidade de Adolescentes que se Automutilam. O estudo tem o intuito de entender quais aspectos emocionais e afetivos estão relacionados a essa prática.

O projeto se originou a partir da procura por parte de educadores das escolas municipais de Volta Redonda, no sul fluminense, com a queixa de que alguns de seus alunos estavam se auto lesionando.

Segundo o especialista, foi elaborada uma metodologia visando compreender esse fenômeno, que vem atingindo muitos adolescentes e pré-adolescentes no município.

Resultados do estudo

As escolas do município indicaram para a pesquisa 80 jovens entre 10 e 16 anos, sendo que 61 deles contemplaram todos os procedimentos e compuseram a amostra.

Por meio de testes psicológicos e entrevistas clínicas, foram identificadas características de personalidade dos adolescentes e traçado o perfil do jovem que usa a autolesão para lidar com o sofrimento.

“O resultado dessa pesquisa demanda ações, projetos de intervenção, de escuta e de acolhimento a esses jovens que manifestam este tipo de transtorno”, disse Antônio Augusto.

Maioria das identificações foi feita por professores e não pelos pais – Foto: Freepik/Divulgação/ND

Além disso, outro resultado da pesquisa se refere aos instrumentos utilizados: foram detectados principalmente objetos cortantes como gilete, apontador e estilete. E as partes do corpo escolhidas são, na sua maioria, braços, mãos ou pulsos.

O pesquisador alerta que eles se automutilam, mas escondem os cortes. Por isso, os pais devem ficar de olho e observar alguns comportamentos, como o de usar constantemente roupas de manga comprida, mesmo em dias quentes. Ele ressalta que também é importante observar a presença de objetos cortantes, principalmente quando os jovens estão muito isolados.

Cartilha criada pelo Ministério da Saúde

Em 2020, o Ministério da Saúde lançou a cartilha sobre o tema em parceria com a Opas (Organização Pan-Americana da Saúde), com a OMS (Organização Mundial da Saúde) e com a Associação Brasileira de Psiquiatria.

O material é voltado para jovens entre 15 e 18 anos. Ele reuniu informações, sinais de alerta, prevenção, medidas de proteção, canais de ajuda e entre outras informações importantes.

“A automutilação, também chamada de autoagressão ou autolesão, refere-se ao dano a uma parte do corpo do próprio indivíduo, realizado de forma consciente (não acidental) e sem intenção de morrer, com métodos que não são aceitos socialmente”, registra a cartilha.

Tatuagens, piercing, brincos ou outras formas de marcar o corpo para rituais tribais ou para exibição pública não são considerados automutilação.

A cartilha indica que o objetivo mais comum na automutilação é aliviar e reduzir a angústia, mesmo que por um curto período. Ao se machucar, a pessoa que se automutila percebe a dor emocional sendo ofuscada pela dor física, dando uma impressão de alívio momentâneo.

Motivação para automutilação

Nos 83% dos casos analisados na pesquisa UFF, a motivação por trás do comportamento parece estar relacionada com conflitos familiares não resolvidos, como violência conjugal e violência de vitimização.

Na modalidade de vitimização, estão o abuso físico e sexual, a violência psicológica e a negligência dos responsáveis. A pesquisa aponta que a negligência é relacionada ao total de jovens que não foi encaminhado a nenhum serviço de cuidado mental, que passa dos 50%.

O estudo revela ainda que a autolesão está associada a uma personalidade depressiva – Foto: Freepik/Divulgação/ND

O estudo revela ainda que a autolesão está associada a uma personalidade depressiva, o que alerta para riscos maiores. Antônio relata que esses atos são uma porta de entrada para os comportamentos ou práticas suicidas.

O pesquisador destaca que, na grande maioria dos casos, a identificação da prática foi feita por um professor e não dos pais. Então, para Antônio, é importante que os profissionais da educação recebam treinamento e formação para identificar rapidamente as várias tipificações de sofrimento psíquico na infância e adolescência.

Com os resultados alcançados, o estudo deve se desdobrar em projetos conjuntos com as escolas que encaminharam os adolescentes para que sejam desenvolvidas iniciativas voltadas à prevenção e ao combate à prática da automutilação.

A iniciativa deve envolver também uma abordagem em torno da prevenção da violência doméstica.

“Esses projetos visam abrir um espaço de escuta, para que eles sejam acolhidos. E, a partir desse acolhimento, eles possam, juntamente com o terapeuta, compreender, dar significado e ressignificar essa experiência traumática”, conclui o professor.

*Com informações do portal R7.

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