Se tem duas coisas que Edson Bush Machado mantém em dia são o “bronze” da pele e a disposição para as brigas da cultura. Foi há praticamente um ano que eu encontrei a “entidade” Edson Machado num desses périplos aleatórios pelo Centro Leste de Florianópolis.
“Marcos! Eu vou lançar um livro meu. Vai se chamar ‘Quem tem medo da cultura?’!”
Agora temos o livro aí, que artista visual, jornalista, curador, gestor cultural e tantos outros predicados lança nesta terça-feira (30), às 18h30min, no Barió Café, no Centro Integrado de Cultural (CIC), em Floripa. São cerca de 600 páginas que reúnem artigos, escritos, críticas sobre a urbe artística catarinense e nacional ao curso de cinco décadas de atuação do “operário da cultural”, como ele se define.
Depois, Machado seguirá em um tour de lançamento do livro em cinco cidades de Santa Catarina, além de Curitiba (PR) e São Paulo (SP).
A modéstia nunca foi o forte desta figura que ao longo da vida aprendemos a admirar e por vezes a “praguejar”. A preguiça também não. Seja observando e muitas vezes provocando, Edson Machado é um dínamo das nossas artes.
Como gestor, especialmente no seu período enquanto presidente da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), Edson fez da condição de “vidraça” um ato também de contestação à mesmice, a burocracia e o marasmo na cultura oficial e pública. E ele nunca se escondia do debate.
O livro, com mais de 2 mil citações a artistas, museus e instituições artísticas, se destina a pesquisadores, estudantes e artistas pelo seu status iconográfico e histórico, e também a qualquer pessoa disposta a entender e conhecer a nossa cultura recente.
Eu lembro que, naquela ocasião do nosso encontro, ela ainda asseverou “cadê o povo da cultura, Marcos? Estão todos acomodados!”. É um fato, e é por isso que personalidades como Edson Machado, que suscitam paixões e controvérsias, são tão importantes para a nossa cultura.
Capa do livro traz obra icônica de Edson Machado
O joinvilense e irmão de Juarez Machado promete aos leitores uma “obra icônica que marcará a história do estado”. Começou muito bem pelo título, “Quem tem medo da cultura?”, e também pela arte da capa que reproduz a obra “Objeto de tortura para afoitos literatos”, de autoria de Edson e produzida em 1975.
Dada o contexto histórico do país à época dá para imaginar o que representa a máquina de escrever cujas teclas das letras foram substituídas por pregos e a lauda tingida de vermelho “sangue”. O Brasil vivia o auge da ditadura militar, da repressão aos artistas, jornalistas, escritores, uma sociedade amordaçada pela censura e aterrorizada pela violência de estado.
Porém, tanto o título quanto a imagem da capa também encontram eco no “timing” dos tempos recentes: a “criminalização” das artes, dos artistas, o sonho delirante pela volta dos “tempos de chumbo”, o culto à ignorância, a alienação e sectarismo impregnados em extratos da sociedade e da política.
Eu seu título, Machado deixa subtendido outra pergunta: por que tanto medo da cultura? O próprio livro é uma resposta.