Indo contra comentários e “opiniões” etaristas, mulheres com mais de 40 anos escolhem viver a maternidade e gerar os próprios filhos. Esse é o caso de duas moradoras de Blumenau, no Vale do Itajaí, que não pensaram duas vezes em aumentar a família por meio da gestação.
Marisa Furtado Rodrigues, de 53 anos, atua como coordenadora comercial e se tornou mãe de seu segundo filho aos 41 anos de idade. Em entrevista ao Portal ND Mais, ela conta que, apesar dos comentários contrários, se sentiu muito mais segura na segunda gestação.
Por ter uma família pequena, ela e o marido resolveram aumentar o número de integrantes, foi quando procurou uma opinião médica, pois tinha miomas no útero. “O médico aconselhou que eu não tivesse mais filhos e ainda fizesse a histerectomia”.
Marisa não desistiu do sonho de aumentar a família
Apesar de ser desmotivada a tentar uma gestação, Marisa procurou uma segunda opinião médica, mas recebeu a mesma recomendação, pois já tinha 40 anos de idade, além dos miomas no útero. “Foi uma conversa demorada e desanimadora, mas no final, o médico brincou ‘caso aconteça a gravidez, gosto de mulher barriguda”.
Três meses depois daquela consulta, ela voltou à clínica e enfatizou só ter escutado a parte em que ele brincou “gostar de mulher barriguda”. “Tive uma gestação tranquila e no dia escolhido, 13 de junho de 2011, o meu bebê nasceu”.
Marisa compartilha um conselho com as mulheres que desejam ser mães após os 40 anos: se estiverem saudáveis para passar por uma gestação, que não pensem duas vezes e sigam seus corações.
“Se eventualmente tiverem algum problema de saúde, o risco deve ser avaliado, mas não desistam na primeira opinião negativa que receberem, nem na segunda. Procurem um profissional competente para avaliação e entregue nas mãos de Deus, que o melhor vai acontecer”, pontuou.
Mãe de dois filhos, Marisa sente um amor inexplicável pelos seus meninos. Ser mãe para ela é ter uma força interior para enfrentar os desafios no dia a dia. “É reconhecer as mínimas coisas, como se fosse uma grandeza! É corrigir na hora que precisa, também saber perdoar e se doar a todo tempo”, destacou.
Assim como Marisa, a auxiliar de estamparia Jucilene Rodrigues Borges dos Santos, de 46 anos, foi agraciada com a oportunidade de gerar sua filha Ester, hoje com 3 anos de idade. Considerada estéril, ela orou para que fosse abençoada com a oportunidade de ser mãe.
Casada há muitos anos, o sonho de construir uma família era muito presente na vida dela. Aos 43, indo contra todos os comentários e oposições, ela conseguiu engravidar de forma natural, sem passar por nenhum procedimento para isso.
“Foi uma benção a minha gravidez o tempo inteiro. Eu era estéril, mas eu pedi para engravidar em oração e consegui”, enfatizou
Ela destaca que a fé e acreditar em si mesma, de que é possível, é muito importante para quem anseia gerar um filho. “A gente precisa pedir e acreditar que vai dar certo, porque Deus abençoa”.
Chances de engravidar após os 40 anos são baixas
A médica ginecologista e obstetra Luine Cristina Baratto explica que muitas mulheres tem prolongado a decisão de gestar mais tarde devido à mudança, tanto do cenário profissional, quanto pela liberdade adquirida.
“Queremos estudar primeiro, ter estabilidade financeira e um bom emprego antes de engravidar. Mas atrasar a maternidade, infelizmente, pode trazer alguns riscos adicionais”, explicou.
Entre os riscos citados pela médica está a probabilidade de desenvolver pré-eclâmpsia (uma doença da gestação com aumento da pressão), de desenvolver diabetes gestacional, dificuldade para engravidar, entre outros.
Luine atua em Itajaí, na Clínica Balmo, Agar (Ambulatório de Gestação de Alto Risco) da Univali e no Hospital Marieta e, segundo ela, os óvulos tendem a envelhecer junto com as mulheres.
A cada ciclo menstrual, a quantidade de óvulos vai diminuindo, o que dificulta o processo de concepção.
“Para se ter uma ideia, após os 40 anos e até os 42 anos, as chances de engravidar são de 4% por ciclo, e 5% em 1 ano. Após os 43, as chances caem para 0,2% por ciclo e 1% ao ano”, explicou.
Apesar de ser mais difícil engravidar após os 40 anos, houve um aumento de mulheres que deram à luz depois desta idade no Brasil. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o número de nascimentos teve uma queda de 13% entre 2018 e 2022, mas apresentou uma alta entre as mulheres com mais de 40 anos.
Conforme a pesquisa “Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil”, o país teve 2,56 milhões de nascidos vivos entre 2018 e 2022, o que representa uma redução de 383 mil.
Confira o índice por idade
- 20 a 29 anos – queda de 11,2%
- 30 a 39 anos – redução de 10%
- 40 a 49 anos – aumento de 16,8%
Em contrapartida, esse número cresceu entre as mulheres de 40 a 49 anos. Segundo a pesquisa, esse resultado está relacionado ao aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho e ao aumento da escolarização.
Quais cuidados devem ser tomados pelas mães ao engravidar após os 40 anos?
A médica Luine cita alguns cuidados principais que precisam ser tomados pelas mães durante a gravidez tardia, entre eles fazer o pré-natal com médico qualificado, que tenha a especialização em obstetrícia, com RQE (Registro de Qualificação de Especialista).
“Além disso, manter hábitos saudáveis, com boa alimentação e, sim, a prática regular de atividade física é de suma importância”, destacou.
Também há alguns exames extras que podem ser realizados, principalmente no que diz respeito ao rastreio das cromossomopatias. De acordo com a médica, as ultrassonografias morfológicas, tanto de primeiro trimestre, quanto de segundo trimestre, são imprescindíveis.
“Além das ultrassonografias existe um teste chamado NIPT, que pode ser realizado após as 9 semanas de gestação e que acrescenta algumas informações importantes. Porém, hoje ele ainda não está disponível pelo SUS”, comentou.
Apesar de apresentar alguns riscos engravidar após os 40 anos, Luine detalha que não há qualquer contraindicação para um parto normal caso as mães desejem fazer desta forma.
“A abordagem para decisão da via de parto é exatamente a mesma, independente da idade da gestante”, disse.
Por fim, a médica ginecologista e obstetra enfatiza a importância de ter um estilo de vida saudável durante a gestação.
Entre as ações citadas para as mães está manter a alimentação equilibrada, atividade física regular, sem consumo de álcool ou qualquer outra droga, e suplementação específica para cada gestante, “mas sem necessidade de uma suplementação complicada, apenas alguns ajustes de algumas vitaminas específicas”, completou.