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Beatriz Nascimento: conheça a intelectual negra que inspira cientistas

Você já ouviu falar de Beatriz Nascimento? Ela foi a principal intelectual do país, teve muitas contribuições fundamentais para entender a identidade negra como instrumento de autoafirmação racial, intelectual e existencial.

Negra, migrante, nordestina e mulher. Ela ainda desenvolveu várias pesquisas sobre o que denominou os “sistemas sociais alternativos organizados por pessoas negras”, investigando dos quilombos às favelas.

Conheça Beatriz Nascimento, intelectual negra que inspira cientistas – Foto: Arquivo Nacional/Divulgação/ND

Com tantas contribuições, o nome de Beatriz será homenageado. O governo federal instaurou o primeiro programa direcionado exclusivamente às cientistas negras, indígenas, quilombolas e ciganas nesta quinta-feira (20), com o: “Atlânticas — Programa Beatriz Nascimento de Mulheres na Ciência”.

Conforme a Enciclopédia de Antropologia da Universidade de São Paulo, Maria Beatriz Nascimento nasceu em Aracaju. Ela é a oitava filha de Rubina Pereira do Nascimento e Francisco Xavier do Nascimento, que migraram para a cidade do Rio de Janeiro no final de 1949.

Em 1968, ela ingressou no curso de História da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), e concluiu em 1971, aos 29 anos. Nesta época foi discípula do historiador José Honório Rodrigues, realizou estágio de pesquisa no Arquivo Nacional e trabalhou como professora de história da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro.

Beatriz se especializou em História do Brasil pela UFF (Universidade Federal Fluminense) quando, em 1974, participou da criação do Grupo de Trabalho André Rebouças e, em 1975, do IPCN (Instituto de Pesquisa das Culturas Negras).

Em 1977, aconteceu a Quinzena do Negro, evento promovido pela USP (Universidade de São Paulo), e nele Beatriz apresentou a conferência Historiografia do quilombo, delineando os contornos do que ela desenvolveria, posteriormente, como espaços de resistência cultural negra: dos bailes blacks aos territórios de favelas, esses espaços constituiriam uma identidade negra como instrumento de autoafirmação racial, intelectual e existencial, além de território simbólico ancorado no próprio corpo negro.

Viagem ao continente africano

Quando foi ao continente africano, em 1979, a autora conheceu os diversos territórios de antigos quilombos angolanos e reafirmou a vinculação da cultura negra brasileira e africana.

O documentário Ôrí, lançado em 1989 e dirigido por Raquel Gerber, cineasta e socióloga, mostra Beatriz narrando parte da história do movimento negro brasileiro entre 1977 e 1988.

Além disso, escreveu uma série de textos, poemas, roteiros, ensaios e estudos teóricos, entre os quais se destacam: Por uma história do homem negro (1974); Kilombo e memória comunitária: um estudo de caso (1982) e O conceito de quilombo e a resistência cultural negra (1985).

Beatriz Nascimento foi vítima de feminicídio

A historiadora foi vítima de feminicídio, em 1995, aos 52 anos de idade. Segundo a UOL, ela foi assassinada a tiros pelo namorado de uma amiga a quem havia aconselhado a terminar por conta de violência doméstica.

“Beatriz Nascimento é uma das intelectuais mais brilhantes que esse país já teve e que, infelizmente, teve a vida interrompida de maneira muito precoce em razão do feminicídio”, ressalta a professora de História, Luana Tolentino.

Sendo assim, suas contribuições à pesquisa acadêmica, em outubro de 2021, foi outorgado a ela o título póstumo de Doutora Honoris Causa in Memoriam pela UFRJ. Ao lado de Lélia Gonzalez (1935-1994), Sueli Carneiro e Luiza Bairros, Beatriz figura como umas das mais importantes intelectuais negras brasileiras.

Beatriz abriu portas

Tolentino afirma que a historiadora é uma grande inspiração para todas as pesquisadoras negras. “Ela abriu portas para a minha geração poder entrar”, diz. A professora ainda conta que é da década de 1980, por isso, é da geração que tem a oportunidade de exercer o direito de estar na universidade em função das políticas de cotas.

“A luta contra o racismo da Beatriz Nascimento foi fundamental para construção dessas políticas públicas de promoção da igualdade racial e também como um incentivo, como farol para nós pesquisadoras negras, mulheres negras”.

Mesmo com o avanço nas lutas de igualdade racial, as mulheres negras precisam enfrentar diversos desafios. Segundo Luana, o primeiro desafio é justamente o racismo que orienta a sociedade brasileira, que dificulta de todas as maneiras o acesso das mulheres negras à universidade.

“Temos a política de cotas, que é um marco na história do país e que sem sombra de dúvidas tem sido fundamental para dar novos contornos, novas cores à universidade, mas ao mesmo tempo, há uma série de barreiras que dificultam o acesso das mulheres negras ao ensino básico. Entre os grupos sociais que não tiveram oportunidade de frequentar a escola, as mulheres negras são maioria”, explica Luana Tolentino.

O outro ponto destacado pela professora, é que ao chegar na universidade as pesquisadoras precisam enfrentar o olhar de desconfiança com o qual as são vistas, também motivado pelo racismo.

Luana aponta que “vivemos em um país em que ainda há uma expectativa de que, nós mulheres negras, estamos nesse mundo apenas para servir e limpar a sujeira dos outros”. Para ela, o Brasil ainda possui dificuldade de pensar nas mulheres negras como pesquisadoras, como intelectuais, como produtoras de conhecimento.

“Mas, a despeito de tudo isso, nós estamos em um número muito significativo na universidade, acho que como Beatriz Nascimento sonhou. Nós que já estamos [na universidade] precisamos assumir o compromisso de abrir tantas outras portas para que outras mulheres negras possam entrar e garantir o direito humano à educação e ao ensino superior”.

Atlânticas – Programa Beatriz Nascimento de Mulheres na Ciência

O programa visa fortalecer as trajetórias acadêmicas das mulheres, oferecendo bolsas de doutorado e pós-doutorado sanduíche no exterior. Será investido aproximadamente R$ 7 milhões, resultando na parceria entre o Ministério da Igualdade Racial com o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), o MPI (Ministério dos Povos Indígenas) e o Mmulheres (Ministério das Mulheres).

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