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Nós somos Rita Lee e Marcelo Zelic

Nenhum país vive sem música e sem arte. Cantores, artistas e escritores expressam o que existe de mais profundo na alma brasileira. “Nós somos quem somos, porque Rita foi Rita, Elza foi Elza, Gal foi Gal – diz a atriz Thais Trindade numa bela imagem sobre o ethos nacional. Por isso, a morte da cantora Rita Lee na segunda (8), deixou o país desolado e em luto oficial por três dias decretado pelo presidente Lula, que expressou a comoção da sociedade brasileira.

Acontece que também o Coiso foi o Coiso. Nenhum dos 50 artistas mortos durante seu governo recebeu dele a devida reverência. Imbrochável não gosta de bandeira a meio pau. Extinguiu o Ministério da Cultura e manifestou desprezo pela música e pela poesia. No caso de João Gilberto, ele não estava nem aí, apesar da Unesco, órgão das Nações Unidas, ter decretado luto oficial no mundo da educação e da cultura.

Diante de tal omissão, quem homenageou João Gilberto foi o Congresso Nacional acionado pelo senador Randolfe Rodrigues. O Coiso se limitou a declarar:

É, parece que era uma pessoa conhecida.

Parece? O Coiso nunca assoviou uma música de João Gilberto, célebre até na Arábia Saudita, para onde sua equipe e ele próprio fizeram 150 viagens em quatro anos. De olho nas joias, não ouvia “Chega de Saudade” tocada nos elevadores do hotel Hilton, onde se hospedava.

Armazém da Memória

Sem música, sem arte, o Brasil não é Brasil. Mas nenhum país tampouco vive sem memória. Por isso, muitos brasileiros decretaram em seus corações luto oficial pelo falecimento, no mesmo dia de Rita Lee, de Marcelo Zelic, membro do Grupo Tortura Nunca Mais (GTNM). Ele não era uma celebridade, mas “somos quem somos porque Zelic foi Zelic”. Nascido em 1963, em São Paulo, trabalhou em várias frentes. Criou um site – o Armazém da Memória, que guarda milhares de documentos sobre a luta contra a ditadura empresarial-militar brasileira.

Dedicou sua vida a uma outra frente: a memória histórica dos povos originários. Foi ele o responsável por recuperar no Museu do Índio/RJ o Relatório Figueiredo, um conjunto documental com mais de 7 mil páginas, sobre cometidos contra os povos indígenas na ditadura.

Helena, sua filha, escreveu um depoimento pungente, mas sóbrio:

– É hora de mantermos a memória dele viva, assim como ele, com o Armazém Memória, mantinha viva parte da memória do Brasil. Ele descobriu arquivos que ninguém tinha visto, lutou e enfiou dedos na ferida para que se fizesse justiça, reparação e não-repetição, se rodeou de indígenas e não-indígenas, todos lutadores.

“Passamos os últimos dias o abraçando, relembrando as melhores e mais engraçadas histórias, dando coragem e conforto para ele, que estava feliz” – escreveu Helena, que revela como ele era dentro de casa:

Mexia com coisa séria sempre com um sorriso no rosto, uma piada besta prontinha na ponta da língua. Cuidava de todos nós que estávamos por perto, sempre disposto a dar uma carona ou a tomar um lanchinho, falando igual uma matraca. Cuidava da casa com apreço e gentileza: fazia a comida das cachorras, dormia com elas, varria o quintal, lavava a louça de todo mundo, porque gostava de fazer, porque dizia que pensava melhor enquanto fazia”.

Ela concluiu seu relato: “Agora é hora de seguirmos pensando nele, e não só lembrando as histórias, mas também assumindo o compromisso de sermos como ele: justos, generosos, teimosos, rebeldes, carinhosos, comprometidos com a luta dos povos. Muita saudade, mas também um orgulho que nem cabe na nossa mão. Sejamos, agora, todos nós um pouco Marcelo Zelic”.

Ah, querido Marcelo, com uma filha assim certamente você foi muito feliz.

O post Nós somos Rita Lee e Marcelo Zelic apareceu primeiro em Portal de Notícias D24am – Amazonas.

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