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Mães solo: conheça o dilema das mulheres que são mãe e pai


No Brasil,160 mil recém-nascidos foram registrados apenas pela mãe no último ano. G1 mostra histórias de mulheres que criaram os filhos sozinhas, não por opção, mas por abandono ou viuvez. Colagem de fotos de mães solo e seus filhos em diferentes idades
Arquivo pessoal
Segundo Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), de janeiro de 2022 até janeiro deste ano foram registrados mais de 2,5 milhões de nascimentos no Brasil. Nas certidões, a falta do nome do pai saltou de 162.409 para 165.050 se comparado ao mesmo período do ano anterior, com a mesma média de nascimentos.
A maternidade solo cresce não só por ausência do sobrenome do pai, mas também por histórias de abandono, viuvez, ou descaso. Na semana do Dia das Mães, o g1 ouviu as histórias de duas mulheres, que precisaram ser mãe e pai de seus filhos. Não por opção, mas por “circunstâncias da vida”
Mãe Solo aos 23 anos
Eliana Marques com o primo e os cinco filhos em festa de aniversário da caçula
Jéssica Fernanda/ arquivo pessoal
Moradora de Planaltina, no DF, Eliana Marques, hoje com 48 anos de idade, foi abandonada pelo companheiro aos 23 anos, quando eles já tinha quatro filhos. Ela conta que passou por muitos momentos difíceis para criar e sustentar sozinha as crianças.
“Meu marido simplesmente foi embora. Ele tinha problemas com o alcoolismo e sumiu. Eu me vi desempregada, sozinha e com quatro filhos pequenos para criar. Fiquei com eles e não desisti, porque ser mãe é isso”, diz Eliana.
Ela lembra que houve momentos em que passou necessidades com as crianças. Em um período precisou deixar a filha mais velha – com apenas 11 anos – cuidando dos irmãos menores, com a ajuda de um primo, para que pudesse sair para trabalhar e garantir o sustento da família.
“Aquilo doía meu coração, ela era só uma criança. Mas não tivemos escolha, estávamos passando fome, passando frio, eu precisava trabalhar pra dar uma vida digna a eles”, aponta.
Mesmo com os quatro filhos, Eliana tinha “coração de mãe”. Ela acabou adotando uma criança de dois anos, filha de uma amiga, que havia falecido, e a família cresceu ainda mais.
Eliana Marques com os filhos já crescidos
Arquivo Pessoal Jéssica Fernanda
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Viúva aos 22 anos
Drielly Cristina mora em Samambaia, no Distrito Federal. Ela teve o primeiro filho aos 19 anos de idade e, aos 22 anos, perdeu o marido vítima de um assassinato.
A mãe solo conta que no início foi muito difícil conseguir cuidar do menino e manter as despesas da casa, já que grande parte da renda vinha do marido.
“Eu ficava pensando: meu Deus, o que vai acontecer com a gente agora? Como vou pagar o aluguel, trabalhar e cuidar do meu filho? “, lembra.
A jovem precisou voltar a morar com a mãe. Ficou desempregada e o único recurso, por muito tempo, foi o benefício do Bolsa Família.
Atualmente, aos 29 anos, Drielly diz que já consegue lidar melhor com o fato de ser pai e mãe de Kauã. Porém, ainda enfrenta dificuldades, tanto emocionais como financeiras.
“Minha mãe cedeu a casa dela pra gente e eu vivo de bicos. Não tenho trabalho fixo porque não tenho com quem deixar meu menino, então, eu faço o que posso enquanto ele está na escola”, conta.
Drielly Cristina e o filho Kauã, hoje com 10 anos de idade
Arquivo Pessoal Driely Cristina
‘Desafios adicionais’
De acordo com o psicólogo Dário Ferreira, “a maternidade é uma experiência complexa que envolve tanto aspectos biológicos quanto psicológicos, sociais e culturais”. Ele trabalha na Comunidade Terapêutica Feminina Casa de Abigail, no DF, onde atende muitas mães solo.
Segundo o psicólogo, essas mulheres enfrentam desafios adicionais como:
Responsabilidade exclusiva de cuidar da criança
Falta de apoio emocional
Estigmatização social
Necessidade de equilibrar o papel de provedora financeira e emocional
Sobrecarga emocional
Sobrecarga de trabalho
Falta de tempo de qualidade familiar
“Esses fatores podem ter um impacto significativo no bem-estar psicológico da mãe e da criança, incluindo estresse, ansiedade, depressão e problemas de autoestima”, diz Dário.
Conforme o psicólogo, cada caso é individual. Porém, crianças que crescem nessa realidade de abandono paterno podem enfrentam dilemas emocionais, cognitivos e sociais, que podem influenciar em seu desenvolvimento acadêmico, bem como na formação de relacionamentos saudáveis ​​no futuro.
Para Drielly e para Eliana, o desafio é conseguir equilibrar as necessidades. Eliana, que atualmente está com todos os filhos crescidos, diz que não se arrepende e que por eles viveria tudo de novo.
“Ao olhar pra trás, o sentimento é de orgulho e gratidão por ter conseguido cuidar da família”, diz Eliana Marques.
Drielly Cristina conta que aos 10 anos o filho Kauã, muitas vezes, reclama da falta que faz ter um pai. Mas ela tem sempre a mesma resposta:
“Filho, sei que não é fácil, mas eu sou seu pai e sua mãe, estou aqui pra você, faço tudo por você”, diz Drielly.
*Sob supervisão de Maria Helena Martinho
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