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O que está por trás do gênero worship, que domina a música gospel brasileira

Tudo começa com um convite. “Celebrai a nova vida”, canta Ana Paula Valadão nos primeiros versos do álbum de estreia do Diante do Trono, de 1999. “Vem, espírito de Deus, me leva”, entoa Gabriela Rocha em “Jesus”, disco que marcou o início de sua carreira, em 2012.

A história desses e de tantos outros trabalhos foi inspirada pela fé, mas também revela uma narrativa que busca prender a atenção dos fiéis. Letras de fácil compreensão, sem detalhes bíblicos complicados para não-iniciados, e com o objetivo de quase anular a presença de quem está cantando. O objetivo é a conexão com os céus, o nascimento –ou crescimento– da fé e o mergulho na espiritualidade através da música.

Essas são as principais características do gênero gospel louvor e adoração, também conhecido como congregacional. É uma versão importada do worship, estilo musical que explodiu nas igrejas dos Estados Unidos, do Canadá e da Austrália e ganhou da indústria o selo de contemporary worship music (ou música contemporânea de adoração).

Marcado pela presença de guitarras acentuadas e baterias explosivas, o gênero bebe na fonte de estilos que os evangélicos chamam de secular, como pop, rock e folk, e começou a ganhar popularidade com a chegada de ministérios como o Vineyard, nos anos 1970.

A igreja, que ganhou sua primeira congregação em Los Angeles, na Califórnia, foi criada por Kenn Gulliksen e, desde aquela época, defende a importância da música gospel para converter novos adeptos ao relatar experiências pessoais com o divino.

O crescimento desses grupos internacionais culminou no surgimento de representantes do worship no Brasil. Os maiores sucessos lá fora ganham tradução para o português e impulsionam o crescimento do gênero por aqui.

Gabriela Rocha grava versão em espanhol de ‘Me Atraiu’ (Carlos Rodriguez/Divulgação)

Esse intercâmbio é positivo, segundo Banning Liebscher, pastor e fundador do Jesus Culture, banda que surgiu na Califórnia dentro da Bethel Church. “A igreja norte-americana sabe que a igreja brasileira é muito apaixonada, e isso se aplica à música. Sempre que as pessoas estão se dedicando ao sagrado é bom para nós, independentemente do idioma. É uma forma de criar um ponto de conexão com o que estamos fazendo. Nós não começamos a fazer música pensando em influenciar outros grupos, esse
não era o objetivo central. Nossa intenção sempre foi ajudar as pessoas a se aproximarem da sua fé”, contou ele à Billboard Brasil. Uma das músicas mais famosas do Jesus Culture, e ganhou versões em português, é “How He Loves Us”, regravada aqui pelo Livres Para Adorar e Diante do Trono sob o título de “Me Ama”.

Liderado por Ana Paula Valadão, o Diante do Trono foi o grupo que pavimentou o caminho do worship no Brasil. Surgido na Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte, Minas Gerais, o Diante do Trono lançou seu primeiro álbum em 1999, impulsionado pelo single “Aclame ao Senhor”, versão brasileira de “Shout to the Lord”, do Hillsong, de 1998. Ana Paula conta que, desde a criação do grupo, a intenção era mergulhar nesse gênero.

“Esse estilo de música é uma arte, mas é uma expressão do nosso estilo de vida. Nós não cantamos como uma performance, aquilo precisa ser verdadeiro. O estilo worship é uma oração cantada. Quando estamos no palco, não é para fazer um show, é para fazer um culto.” Ana defende que um dos pontos mais importantes do gênero é que a mensagem que ela canta se sobressaia à sua imagem como artista. O que pode ser lido como uma inspiração direta no que o apóstolo João escreveu na Bíblia: “Que Ele cresça e eu diminua” (João 3:30). “Minha intenção é que a igreja esqueça que eu estou ali. O que importa é a mensagem de Deus”, explica.

Para manter seu propósito de inspirar aqueles que a escutam, Ana Paula não se prende apenas ao aspecto religioso da composição, que ela descreve como inspiração do Espírito Santo. Com 25 anos de estrada, a cantora e compositora segue uma linha de raciocínio específica para a criação de novas faixas. Enunciar cada palavra de forma clara e criar uma melodia que faça sentido para quem escuta é uma forma de manter a atenção dos fiéis. “Todo tipo de distração nessa conexão, nesse ambiente favorável para que a pessoa tenha uma experiência com a presença de Deus, tem que ser removida. Por isso precisamos ter uma boa técnica, não desafinar, evitar sons desagradáveis. A gente preza por fazer tudo com excelência para facilitar esse contato das pessoas com Deus.”

Ana Paula Valadão

Ana Paula Valadão (Thyago Rodrigues/Divulgação)

Interesse do mercado
A música gospel é o segundo gênero que mais cresce no Brasil, ficando atrás apenas do sertanejo, de acordo com dados do Spotify. Em 2019, o número de ouvintes na plataforma teve um aumento de 44% em relação ao ano anterior. A jornalista e antropóloga Olívia Bandeira, autora do livro “Música Gospel: Disputas e Negociações em Torno da Identidade Evangélica no Brasil”, define o gospel como um guarda-chuva que abriga, entre outros subgêneros, o worship. “Ele se tornou o mais popular entre os outros, como o pentecostal, conhecido popularmente como hinos de fogo. Isso tanto dentro das igrejas, entre os cristãos, como no mercado. O worship despertou o interesse de gravadoras religiosas e até mesmo das seculares.”

Um exemplo disso é que Sony, Warner e Universal, de artistas como Emicida, MC Hariel e Anitta, respectivamente, têm departamentos dedicados à música gospel. Enquanto a Onimusic, gravadora religiosa, é composta por 90% de artistas que cantam worship. Nelson Tristão, CEO e fundador do selo, é dono de um catálogo com 250 mil títulos internacionais, que distribui para cantores brasileiros produzirem as próprias versões. Ele sacou a oportunidade de negócio em 2010, quando começou a criar seu catálogo, que hoje é um verdadeiro império. “Desde o início da Onimusic, os artistas que se aproximaram da gente foram os do worship.”

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Hoje, a gravadora promove encontros entre brasileiros e norte-americanos, suecos e mexicanos para os song camps, acampamentos de composição. “Depois de termos regravado diversas músicas internacionais, nossa intenção hoje é que as faixas de autores brasileiros tenham versões em outros idiomas também.”

Esse movimento ganhou força com Gabriela Rocha. Em setembro de 2023, ela dividiu o microfone com Michael W. Smith para uma versão em inglês de “Atos 2”, uma de suas canções mais conhecidas. O norte-americano já foi fonte para o louvor e a adoração brasileiros em outras ocasiões, principalmente com a faixa “Agnus Dei”, adaptada por David Quinlan. “A gente sempre produziu muitas músicas dele aqui no Brasil, ele é uma referência. Ter uma música que escrevi gravada com ele, cantando em inglês, foi uma honra. Quem ganha com isso é sempre o Reino de Deus”, celebra a cantora.

Gabriela começou sua trajetória no gospel, com o lançamento do álbum “Jesus”, em 2012. Hoje, ela é uma das cantoras mais conhecidas do país, e está há 25 semanas no Billboard Brasil Hot 100 com “Me Atraiu”. Seu estilo é marcado pelo worship, mas ela também costuma misturar o pentecostal em seu repertório –o que será evidenciado em “A Igreja”, seu próximo DVD. Além do gênero mais moderninho, Gabriela promete novas versões de “Hinos da Harpa Cristã”, livro lançado em 1922 com 640 louvores, usado na maioria das igrejas evangélicas do país como base para os ministérios de louvores. “O projeto foi feito para trazer a essência da igreja, reforçar que a tradição continua sendo importante, mas mostrar que o moderno é algo maravilhoso para as congregações.”

Gabriela Rocha (Julia Vechi/Divulgação)

A juventude apoia
Por mergulhar em estilos famosos pela música secular, como o rock e o pop, o worship consegue alcançar o público mais jovem –tanto como ouvintes, quanto como artistas. Isadora Pompeo, gaúcha de 24 anos, é um exemplo disso. Ela alcançou o top 10 Billboard Brasil Hot 100 com a música “Bênçãos que Não Têm Fim”, regravação de “Counting My Blessings”, de Seph Schlueter, líder do coletivo Damascus Worship. O single virou até trend no TikTok e foi usado mais de 2 milhões de vezes em vídeos publicados na rede social.

Ela diz que a decisão de fazer sua versão da faixa foi inspirada pela fé, acima de tudo. “Eu não canto pelo sucesso ou por acessos, precisa ser uma verdade na minha vida. Quando eu ouvi a canção original, senti como se eu mesma a tivesse escrito”, diz. Isadora cresceu com a influência do Diante do Trono —que já lançou álbuns infantis— e defende que o divino se apresenta de diversas formas. “O worship não é infantilizado, mas se trata de uma linguagem mais fácil de compreender. São letras mais íntimas, que conversam com quem está ouvindo. Usar elementos do pop, do rock, ou do folk é moderno. Deus se apresenta para cada geração de uma forma diferente.”

Isadora Pompeo (Felipe Molina/Divulgação)

Gabriela Rocha endossa o pensamento da colega mais jovem. “O worship virou uma linguagem, se modernizou com o tempo. Hoje, nós temos mais instrumentos, guitarras, baterias. Com o meu trabalho, sinto que consigo atingir diversas idades. Nas minhas ministrações tem de tudo, desde a senhorinha que é convertida há anos, até famílias e crianças”, afirma. Ana Paula defende que, mesmo com elementos do secular, todas as bandas e os artista de worship trabalham em função da fé. “Não é só o cantor que está adorando a Deus. A guitarra, a bateria, o teclado também estão conectados com o céu.”

Isaias Saad, cantor de 32 anos nascido em São Paulo e que já se aventurou na música secular, é outro novo expoente da música gospel. Com “Bondade de Deus”, versão traduzida de “Goodness of God”, da Bethel Music, ele já acumula 25 semanas no Hot 100 até o fechamento desta edição. “Quando eu lanço uma faixa, não penso se será para um público específico. Costumo fazer o que eu gosto e aquilo que está no meu coração, inspirado por Deus”, reflete o cantor. “Mas eu vejo que minha música também consegue tocar o coração de pessoas mais velhas, e até chegar a igrejas tradicionais”, comemora.

A carreira de Isaias, que começou em 2018, com o lançamento de seu álbum homônimo, é marcada pelas versões traduzidas de artistas internacionais. Em 2023, ele também se voltou para as cancões adaptadas que já haviam feito sucesso por aqui. O cantor regravou “Nada Além do Sangue”. A faixa foi lançada originalmente em 2007 por Fernandinho como uma tradução de “Nothing But the Blood of Jesus”, hino tradicional da igreja norte-americana escrito em 1876. “Nós somos fruto da música brasileira. Não podemos negligenciar que há muita coisa poderosa feita por aqui. Somos um país absurdamente rico, e eu gosto de valorizar isso.”

Isaias Saad grava versão de “Bênçãos Que Não Tem Fim” (Reprodução/YouTube)

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