Imagine a cena: a maior artista pop da história está em pleno Palais Garnier, a imponente sede da Ópera de Paris. Visualizou? Então, com seus olhos azuis fixos para a câmera, eis que ela dispara uma frase completamente fora do roteiro: “Brasil, estou chegando”. Só que, em novembro de 2023, há menos de seis meses, não havia nada certo, nem perto disso, para que Madonna trouxesse sua “Celebration Tour” ao país. Pelo contrário, corria à boca pequena que essa seria uma missão quase impossível por questões técnicas
“Na hora nós pensamos: por que não pedimos para ela gravar falando ‘Brazil, I’m coming soon’ como um extra do comercial? Se ela topasse, manifestaria um interesse recíproco de viabilizar a negociação de um show. Pois ela gravou essa fala, mas a gente ainda não tinha como usá-la!”, brinca Pedro Smith, head de Relações Estratégicas de Marca do Itaú, cuja campanha de centenário é estrelada por Madge. Restou ao banco mexer os pauzinhos para fazer acontecer. Isso, claro, correndo contra o tempo.
“No dia seguinte à gravação do comercial, assistimos ao show dela em Paris e percebemos que a estrutura seria muito difícil de adaptar para uma apresentação de grande porte, como a que queríamos. Por conta disso, o Guy Oseary [empresário da cantora] nos deu um banho de água fria”, conta Smith.
Na semana seguinte, entraria em cena o lendário empresário Luiz Oscar Niemeyer, da Bonus Track, definido como “peça-chave” no processo. Para quem não está familiarizado com os meandros da música, Luiz Oscar é um pioneiro no mercado de shows internacionais no Brasil, responsável pelo recorde de público de Paul McCartney no Maracanã em 1993 (e por todas as vindas subsequentes do beatle ao Brasil) e pela apresentação gratuita dos Rolling Stones na mesma Praia de Copacabana que será palco de Madonna, em 2006, entre muitos outros eventos históricos.
Ok. Ali havia o maior banco da América Latina, que já tinha uma relação estreita com Madonna, e um produtor experiente, acostumado a lidar com os maiores nomes do showbiz. Mas o destino… Ele às vezes prega peças.
“Eu já havia tentado trazer Madonna em 2006, sem sucesso, e já vinha conversando com a Live Nation, responsável pela ‘Celebration Tour’, mas Madonna teve aquele problema de saúde no ano passado e os shows foram adiados”, explica Luiz Oscar, ou LON, para os mais chegados.
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Beleza, no fim de 2023, Madonna voltou à ativa, gravou o tal comercial, esgotou datas pela Europa, mas Luiz Oscar, que havia saído de férias no início do ano também teve que lidar com a própria saúde. O produtor sofreu um grave acidente, chegou a ser hospitalizado e ficou fora de combate. “Me quebrei todo”, ri, agora que o susto passou.
Em meados de fevereiro (ou seja, pouco mais de 2 meses antes da data do show), com LON de volta à ativa, as negociações se intensificaram. “Ficamos muito próximos e trocamos muitas figurinhas, como uma força-tarefa para viabilizar esse show, porque o Itaú tinha contrato com a Madonna e a Bonus Track, com a Live Nation”, conta Smith, que ficou realmente próximo de LON. “Era sábado, domingo, às vezes 3h da manhã, e estávamos Luiz Oscar e eu em reuniões com os times de fora do Brasil.”
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E os times de tudo relativo a Madonna, claro, são bastante exigentes. “Temos que entregar um show obedecendo o nível de produção que ela apresenta no mundo todo, naturalmente adaptado para um espaço muito maior. Só quando tínhamos o redimensionamento dessa estrutura, patrocínios, televisionamento e questões técnicas aprovadas é que o contrato foi finalmente assinado”, explica Luiz Oscar, frisando que os vazamentos sobre o show que tomaram a internet nas semanas que antecederam o anúncio oficial não interferiram nas negociações. “É que só poderíamos divulgar depois que tudo estivesse de fato assinado.”
Segundo ele, a ideia, desde o começo, era que o show na Princesinha do Mar fechasse a “Celebration Tour”, como “um grande presente para os fãs brasileiros”. “Foi uma ótima escolha –um sábado, temos um feriado no meio da semana e mais pessoas podem visitar a cidade”, diz Luiz Oscar.
Tomara que Madonna também aproveite.
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