Li a reportagem “Maju Coutinho pode ser afastada da apresentação do ‘Fantástico’ após rejeição; entenda” (quinta-feira, 25), da “IstoÉ Gente”, com a maior boa vontade — em busca de uma lógica (sentido) para o texto.
O que há de verdade na publicação? Se há, não é apresentada. Porque a verdade não pode ser apenas “enunciada” — tem de ser acompanhada de provas. O legado da ciência — aquilo que se diz precisa de evidências confiáveis — serve para todos, inclusive para repórteres e editores.
Cercada por fake news, a TV Globo se sente compelida a esclarecer aquilo que é publicado. Porque, se não o faz, o falso, de tão replicado — ecoando em vários sites e redes sociais —, se torna, por assim dizer, “verdade”.
A fonte da “IstoÉ Gente” é o colunista Alessandro Lo-Bianco, do programa “A Tarde É Sua”, da RedeTV! O registro do site: “A jornalista pode deixar a apresentação do ‘Fantástico’, após a emissora ter feito uma pesquisa com a audiência e descobrir a rejeição de muitos telespectadores com Maju. Por conta disso, a TV Globo já estaria de olho em outra substituta para colocar no lugar dela”.
Citando Lo-Bianco, a “IstoÉ Gente” assinala: “A pesquisa foi realizada depois que a emissora percebeu oscilações na audiência do programa jornalístico exibido nas noites de domingo. O colunista afirma que a Rede Globo teria feito uma lista de colaboradores do ‘Fantástico’, como repórteres e âncoras. A Globo estaria estudando a possibilidade de voltar ao antigo formato do jornalístico, que era apresentado por um homem e uma mulher”.
Procurei, na “reportagem”, as provas do que se afirma. Mas não encontrei nenhuma. Primeiro, não se mostra a pesquisa — nenhum dado — para provar que Maju Coutinho é “rejeitada” por “muitos telespectadores”. Quanto significa “muitos”? Segundo, não há nenhuma fonte sustentando as “informações”. Talvez seja possível sugerir que a informação foi trocada pela opinião. “Muitos” seria sinônimo de Lo-Bianco? Talvez não seja, mas é o que parece — ante a falta de evidências.
Em seguida, Lo-Bianco, citado pela “IstoÉ Gente”, assinala que “o plano inicial é testar um revezamento da jornalista com Renata Lo Prete no ‘Jornal da Globo’ daqui a alguns meses. A emissora carioca também quer testar Maju Coutinho na produção de reportagens especiais”. O que há de verdade nisto? Mais uma vez, os leitores ficam a ver navios.
Maju Coutinho estaria sofrendo algum tipo de “perseguição” — talvez por ser negra? Porque, a rigor, a profissional está bem no “Fantástico”.
Se a audiência não é a mesma de outra época isto não tem a ver com a jornalista, e sim com os novos tempos da comunicação. A globalização da informação, com a chegada de “n” canais — tanto de jornalismo quanto de entretenimento (o streaming, por exemplo) —, além da onipresença das redes sociais (Instagram, Facebook, X, Tik Tok) —, derrubou, em parte, a audiência das grandes redes de comunicação, como a Globo (mas não só a rede da família Marinho). Portanto, Maju Coutinho nada tem a ver com queda de audiência. O mais provável é que, dadas sua simpatia e eficiência, contribua para “segurar” parte da audiência.
Endossando Lo-Bianco — de onde retira as “informações”, infelizmente, não se sabe —, “IstoÉ Gente” acrescenta: “Poliana Abritta pode ficar fora do programa, assim como Maju. A Globo pensa em promover a jornalista ao cargo de correspondente internacional”.
Segundo Lo-Bianco, que parece trabalhar no RH da Globo, a rede “já estaria estudando a possibilidade de tirar Maria Beltrão do ‘É de Casa’ e colocá-la no comando no ‘Fantástico”. É tão fantástico que, daqui a algum tempo, vou checar se a Globo fez as mudanças. Se fez, escreverei: “Lo-Bianco é a bola de cristal do jornalismo brasileiro”.
Leia a nota da TV Globo: Malu não tem rejeição
“Essas informações [vulgarizadas por Lo-Bianco e IstoÉ Gente] não procedem. Não houve, em nenhum momento, qualquer pesquisa que apontasse rejeição à Maju. Pelo contrário, a dupla formada com Poliana é muito bem aceita pelo público. Não há planos de mudança na ancoragem do ‘Fantástico’, portanto não há planos de Poliana ir pra Nova York.”
Entretanto, mesmo desmentida, a “IstoÉ Gente” manteve a matéria no ar — como se fosse verdadeira e o que disse a Globo apenas uma versão, quiçá “falsa”. Este é o novo tempo do jornalismo brasileiro — um misto de excesso, fofoca e maledicência.
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