Uma mulher, e mãe, pode contribuir muito para crescimento saudável de um negócio. Já viu como as mães conseguem ser criativas, pensar em tantas possibilidades e tomar importantes decisões? / Foto: CoWomen (Unsplash)
[08.03.2024]
Por Thais Nahas, empreendedora e diretora da Vertical Smart Cities da ACATE
Olá, vamos fazer um teste aqui?
Você acordou e preparou o seu café da manhã? Sabe se precisa ir ao supermercado comprar umas coisas, como carne e produtos de limpeza? Foi vestir a roupa e ela estava bem passada ou um pouco amassada? Você passou, afinal?
Ok, até aqui está fácil…
Vou deixar um pouco mais difícil
Tem filho(s)? Você sabe o nome do pediatra da criança (ou lembra, caso já tenha crescido?) Sabe se precisa (ou quando precisava) comprar fraldas? E se ficam doentes (bem comum com os pequenos) você que administra a medicação? E as atividades da escola que demandam uma atenção em casa, você está acompanhando? Viu que precisa comprar umas meias novas? Recolheu as roupas sujas, colocou na máquina, colocou sabão (tem sabão?), tirou, pendurou, recolheu, dobrou e guardou?
Até aqui, como estamos? Se tem uma pessoa contratada para arrumar a casa, dá uma grande ajuda. E se não tem, é uma correria pra você?
Ah! E agora vamos ao trabalho.
Você trabalha em casa ou precisa sair? Tem alguma flexibilidade de horário, com modelo híbrido? E isso faz muita diferença pra você, pois consegue “administrar’ um pouco melhor as coisas em casa? Ou não se importa com essa parte, pois a diferença mesmo está em não precisar se deslocar?
E quando tem algum evento interessante, ou um happy hour, você vai numa boa ou precisa fazer um planejamento detalhado, quase que uma operação de guerra, para que as coisas em casa não saiam do trilho? Ou já nem vai, pois vai dar muito trabalho? Ou você já ouviu em casa que “não pega bem ficar saindo assim, onde já se viu”?
No seu trabalho, você está conseguindo evoluir na carreira, com aumento de salário? Quando o seu filho nasceu, fez alguma diferença nesta jornada? Por acaso não está dando pra se dedicar “de corpo e alma”, afinal, tem tantas outras coisas pra pensar, resolver, principalmente em casa e com os filhos? Me diz uma coisa, você assumiria um cargo de liderança, caso tenha a oportunidade? Sabe que, em muitos casos, neste mundo corporativo super competitivo, você precisa abrir mão de muitas coisas, não é? O convívio com seus filhos pode diminuir, em alguns casos…ou isso está ok pra você, pois tem alguém pra “segurar as pontas “ em casa?
Vamos lá. Você se identificou com essas questões? Passou um “filme” da sua vida na sua mente? Se é homem, chegou a pensar na sua companheira? Ou você divide bem as coisas em casa, tanto que, inclusive, lembra o nome do pediatra?
Você deve estar se perguntando – onde este interrogatório vai parar? Vem cá que eu te explico.
Você acompanhou o último prêmio Nobel em Ciências Econômicas, concedido para a pesquisadora Claudia Goldin? Este prêmio trouxe luz ao tema da desigualdade de gênero, especialmente sobre as diferenças salariais e de crescimento na carreira para mulheres que se tornam mães. Este destaque, por meio do prêmio, é extremamente importante para o reconhecimento dos reais desafios e busca de soluções efetivas. Trago aqui alguns pontos importantes.
Claudia analisou dados e arquivos de mais de 200 anos do mercado de trabalho americano para buscar informações sobre a participação feminina. Na transição entre uma sociedade agrária (familiar) para uma sociedade industrial, houve redução da mão de obra feminina, e na mudança para o mercado de trabalho de serviços, as mulheres voltaram a ocupar mais espaço. Neste período temos a criação da pílula anticoncepcional – que contribuiu para que as mulheres pudessem decidir o momento ideal para se ter um filho, e também para casar.
O fato é que a mulher pode terminar os estudos, iniciar uma carreira, casar, continuar trabalhando, e, na hora certa, ter um filho (ou até não querer ter). Em muitos países da OCDE as mulheres já possuem maior escolaridade e conseguem entrar nas mesmas vagas dos os homens.
Mas como o mundo corporativo, em geral, reage ao fato de uma mulher ter filhos?
Comecemos pela seleção em uma vaga. Quando a candidata informa que possui filhos, muitos recrutadores as eliminam do processo, com justificativas um tanto fracas. Falo isso por saber de alguns casos com familiares em empresas grandes, com política de ESG e tudo mais.
E quando estão nas empresas? Muitas vezes o ritmo de trabalho e o ambiente altamente competitivo não dá espaço para a mulher mãe evoluir. E não é por falta de vontade da mulher, mas sim de oportunidade e de um modelo de trabalho que permita isso. Na sua pesquisa, ela demonstra que nos setores financeiros, bancários e de negócios corporativos, a diferença salarial é maior, comparado com áreas como ciência, tecnologia e saúde.
Claudia enfatiza em vários momentos da sua pesquisa a desigualdade entre casais na criação dos filhos e nas tarefas domésticas, e quanto isso afeta na vida profissional da mulher. Uma consequência disso, inclusive, é baixa natalidade em muitos países.
Agora você consegue relacionar o interrogatório que fiz no início?
A solução passa por uma evolução e mudança, primeiramente, cultural. Divisão de tarefas domésticas, do cuidado com os filhos é um grande movimento. E como é bom acompanhar de perto o crescimento não é mesmo? Permitir que a mulher saia para trabalhar (sim isso ainda existe), para que ela crie e mantenha o seus relacionamentos sociais e profissionais é muito importante.
Analisar o ambiente e relações de trabalho da empresa é um próximo passo. Tenho certeza que uma mulher, e mãe, pode contribuir muito para crescimento saudável de um negócio. Já viu como as mães conseguem ser criativas, pensar em tantas possibilidades e tomar sérias decisões? Pense nisso!
Vamos lá! Vamos reconhecer, de vez, onde estão os verdadeiros desafios que causam a desigualdade de gênero na nossa sociedade.
Para quem quer assistir à aula de Claudia Goldin no prêmio Nobel de Ciências Econômicas este é o link
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