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Atriz Samara Felippo presta depoimento em delegacia sobre caso de racismo contra filha em escola de SP


Alunas do 9° ano pegaram um caderno da garota negra de 14 anos, arrancaram as folhas e escreveram ofensas raciais em uma das páginas. Samara registrou boletim de ocorrência e prestou depoimento na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância nesta terça (30). Samara Felippo quer a expulsão de alunas acusadas de racismo contra filha
A atriz Samara Felippo chegou por volta das 10h desta terça-feira (30) na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, no Centro de São Paulo.
Ela presta depoimento sobre o caso de racismo contra sua filha de 14 anos, que ocorreu na semana passada, dentro da escola de alto padrão Vera Cruz, na Zona Oeste da capital paulista.
O episódio foi narrado pela atriz ao g1 neste sábado (27), quando Felippo contou que a menina negra de 14 anos teve o caderno rasgado e rasurado com frases racistas escritas pelas adolescentes punidas.
A vítima é filha de Samara com o ex-jogador de basquete Leandro Barbosa, o Leandrinho, que mora nos Estados Unidos, e atualmente tem mais duas filhas com outra mulher.
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O colégio Vera Cruz, na Zona Oeste de SP, onde estudam as filhas da atriz Samara Felippo e do jogador Leandrinho.
Montagem/g1/Reprodução/Instagram
A escola suspendeu por tempo indeterminado as duas alunas acusadas de ato de racismo. (Veja a íntegra da nota abaixo).
Pedido de expulsão
A atriz Samara Felippo e as duas filhas, fruto da relação com o jogador de basquete Leandrinho.
Reprodução/Instagram
O Vera Cruz é uma das escolas mais tradicionais e caras da capital paulista. A mensalidade custa cerca de R$ 4.928,00 por mês para alunos do 9° ano e R$ 5.344,00 para estudantes do ensino médio.
O colégio tem um intenso trabalho de educação antirracista e apresentou o projeto inclusive na sede da Organizações das Nações Unidas (ONU), em Genebra, na Suíça, durante a 3ª Sessão do Fórum de Pessoas Afrodescendentes.
“Construir uma escola e uma pedagogia antirracistas são desafios assumidos por toda a nossa comunidade escolar, com senso de urgência e responsabilidade social. Nosso Projeto para as Relações Étnico-Raciais é uma iniciativa ambiciosa que permite a oferta de bolsas de estudo para alunos pretos, pardos e indígenas na Escola Vera Cruz”, declara a escola nas redes sociais.
Em nota enviada ao g1, a Escola Vera Cruz informou que “os agressores foram informados das sanções definidas inicialmente, dentre elas, uma suspensão por tempo indeterminado, e proibição da participação no Estudo do Meio na Serra da Canastra. Novas sanções poderão ser adotadas, conforme apuração e reflexão sobre os fatos” (leia nota na íntegra abaixo).
Samara Felippo, entretanto, afirmou que quer a expulsão das duas alunas do colégio, para que as filhas não sejam alvo de novos atos racistas.
“Pedi expulsão das alunas acusadas pois não vejo outra alternativa para um crime previsto em lei e que a escola insiste relativizar. Fora segurança e saúde mental da minha filha e de outros alunos negros e atípicos se elas continuarem frequentando escola. Não é um caso isolado, que isso fique claro”, disse ela ao g1.
“Eu sinceramente quero que as pessoas envolvidas – as agressoras, né, que são meninas de 15 anos, idade da minha filha – se reabilitem mesmo. Quero o bem delas, eu não quero mal de ninguém. Eu só quero que não convivam no mesmo espaço, onde poderão futuramente humilhar novamente e ofender e cometer outros atos de racismo contra ela [filha]”, declarou a atriz.
O g1 questionou a escola sobre o pedido de expulsão, mas não obteve retorno até a publicação dessa reportagem.
O ex-jogador de basquete Leandro Barbosa, o Leandrinho, que vive atualmente nos EUA e tem quatro filhas.
Reprodução/Instagram
Choro e indignação
“Ainda estou digerindo tudo e talvez nunca consiga, cada vez que olho o caderno dela ou vejo ela debruçada sobre a mesa refazendo cada página dói na alma. Choro. É um choro muito doído. Mas agora estou chorando de indignação também”, relatou Samara.
Samara contou, ainda, que a filha quis falar com as duas alunas para tentar entender o motivo da agressão. “Foi ela que pediu uma reunião com as garotas. Ela foi super bonita, digna, forte, empoderada, entender, né? Tentar olhar na cara delas, entender o motivo daquele ato tão agressivo, tão violento e explicar para elas que isso é crime, que ela sabe que isso é crime”, disse.
A atriz diz que faz trabalho de “letramento no racismo” com as filhas desde que elas eram pequenas.
“Desde sempre eu nomeei o racismo. Eu disse que o racismo poderia, infelizmente, visitá-las na vida delas. E eu acho que quando ela se prontificou para querer estar com as meninas, em uma sala, para entender o motivo que aquelas meninas tinham feito aquilo, eu perguntei na hora se ela estava forte para isso. E ela disse sim.”
Samara Felippo em vídeo publicado no Instagram
Reprodução Instagram/@sfelippo
Episódios anteriores
Samara diz que a filha já havia passado por episódios de preconceito anteriores, mas que só agora o “racismo se materializou”.
“Antes, ela queria não enxergar. Doía ver, só queria fazer parte de uma turma e era excluída de trabalhos, grupos, passeios, aceitava qualquer migalha e deboche feito pelas mesmas garotas, e seu nome sempre era jogado em fofocas, ‘disse me disse’ e culpada por atos que não cometia. Lembrando do caso do carregador que sumiu numa festa e a única acusada foi ela. [Não atribuo aqui esse caso as atuais agressora].”
A atriz quer levantar um debate sobre o que uma escola precisa fazer para ser considerada antirracista – como se coloca o Vera Cruz.
“Tem algumas coisas na escola que eu não concordo. A política de cotas que eles adotam vai só até o quinto ano. Então, um adolescente negro que vai para a escola no sétimo, no oitavo, no nono ano, não vai se sentir representado, vai ser um ambiente hostil, majoritariamente branco. Eu quero levantar um debate assim: o que é uma escola antirracista de qualidade?”
“Porque essas meninas [que agrediram a filha da atriz] estudam desde sempre no Vera [Cruz], e cometem um tipo de ato como esse. Então, não está fazendo efeito, você não está fazendo efeito (…) Tem que refazer, tem que repensar, tem que fazer mais.”
O que diz a Escola Vera Cruz
“No início desta semana, tomamos conhecimento de uma grave agressão racista entre alunos do 9º ano. Um caderno de uma aluna negra foi roubado, teve folhas arrancadas, uma ofensa de cunho racial altamente ofensiva foi escrita numa das páginas. Desde o primeiro momento, reconhecemos a gravidade deste ato violento de racismo, nomeando-o como tal, e imediatamente foram realizadas ações de acolhimento ao aluno agredido e sua família. Desde então, viemos trabalhando cuidadosamente sobre esse caso e nos comunicando muito intensamente com as famílias de todos os alunos envolvidos.
No dia seguinte, os agressores se identificaram e se apresentaram à Escola, com suas famílias, e diversas medidas foram tomadas, sempre no sentido de acolher o aluno vítima da agressão e sua família, bem como no sentido de garantir que os alunos agressores entendessem a dimensão de seu ato. Depois de amplo e intenso processo de apuração, foi possível promover um encontro entre os três alunos envolvidos, com mediação da escola.
Em seguida, os agressores foram informados das sanções definidas inicialmente, dentre elas, uma suspensão por tempo indeterminado, e proibição da participação no Estudo do Meio na Serra da Canastra. Novas sanções poderão ser adotadas, conforme apuração e reflexão sobre os fatos. É importante sublinhar que as alunas não reincidiram em agressões racistas; a Escola não tem conhecimento de qualquer outra atitude racista de ambas as alunas.
As ações punitivas foram determinadas conforme regras e procedimentos institucionais, que levam em consideração os sentidos das punições no ambiente escolar. As sanções foram definidas pelas equipes da Escola, considerando a gravidade das ofensas. Ações de reparação ainda serão definidas.
Em 2019, a Escola Vera Cruz iniciou um Projeto para as Relações Étnico-Raciais, com ações no ambiente escolar de enfrentamento ao racismo estrutural: olhar sobre o currículo escolar, formação continuada, ampliação da diversidade racial entre alunos, professores e gestores, dentre outras. Ficou evidente a importância da ampliação do letramento racial, do não silenciamento de manifestações racistas, do pronto e amplo amparo às vítimas de eventuais agressões racistas e do encaminhamento adequado de ações de sanção e reparação nestes casos. Entendemos que um projeto de educação para as relações raciais é um projeto de transformação dos alunos. Sua construção se dá pelo enfrentamento direto e pelas ações educativa, mais do que pelo entendimento de que o isolamento e expulsão dos alunos que cometeram atos racistas seriam a única medida cabível. O que almejamos é a constituição de um ambiente, para alunos, familiares e profissionais, de promoção da diversidade e do respeito mútuo, um ambiente onde todas as pessoas se sintam respeitadas e valorizadas independentemente da sua raça, etnia, religião, condição social, deficiência etc”.
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