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Marta Suplicy se filia ao PT em ato com Lula para ser vice de Boulos em SP

Ex-prefeita retorna ao partido, depois de nove anos, após articulação do presidente e minimiza rusgas do passado
A ex-prefeita Marta Suplicy assinou nesta sexta-feira (2) sua filiação ao PT, partido ao qual retorna após nove anos a convite do presidente Lula (PT) para ser vice de Guilherme Boulos (PSOL) na eleição para a Prefeitura de São Paulo. A volta dela à legenda reuniu líderes e militantes do partido na Casa de Portugal, na região central, em evento com tom de festa e superação de divergências e mágoas.
A ideia da reaproximação com Marta, antecipada pela Folha em novembro, evidenciou a prioridade dada por Lula para a eleição paulistana, que pela primeira vez não terá um candidato do PT. O objetivo maior é evitar uma vitória do campo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que apoia Ricardo Nunes (MDB).
O ato reuniu, além de Marta, Lula e Boulos, figuras de destaque do PT como a presidente nacional da sigla, Gleisi Hoffmann, e o ministro Fernando Haddad (Fazenda) —a quem a ex-prefeita já se referiu como “o pior prefeito que São Paulo já teve”—, além de Janja, outros três ministros e uma série de parlamentares e dirigentes.
O discurso preparado pela ex-prefeita, como mostrou a Folha, tratou a filiação como uma espécie de volta para casa, com exaltações às afinidades entre ela e o partido, e evitou abordar as diferenças que a levaram a deixar a legenda, bem como as críticas de parte a parte nos últimos anos.
“Aqui estou de volta ao meu aconchego, ao partido que nunca saiu de mim: o Partido dos Trabalhadores e das trabalhadoras”, disse Marta, que agradeceu o carinho da militância e pregou um “olhar atento aos excluídos”. “Participei e assisti ao PT nascer, e crescer, nas ruas do Brasil e dentro da minha casa.”
A ex-prefeita também buscou sinalizar disposição para contribuir com o partido e exaltou sua trajetória. “Regresso com toda a coragem e ousadia que marcaram minha vida e história”, afirmou. “Retorno ao PT mais madura e mais experiente. Entendo que unir e somar é o nosso grande desafio.”
Ela afirmou que tomou o convite de Lula como “uma convocação” e que São Paulo deve ser “um bastião de resistência democrática”. “Juntos com Lula vencemos Bolsonaro em 2022. Novamente juntos, vamos derrotar o bolsonarismo e seus representantes aqui na capital”, disse em referência a Nunes, de quem era secretária até o mês passado.
O antagonismo com o grupo do ex-presidente também marcou as falas de Boulos e Gleisi no evento.
“Estou de volta para caminharmos juntos e mantermos nosso espírito de luta na defesa da democracia como instrumento de composição das diferenças, da pluralidade e respeito às liberdades democráticas, hoje ameaçadas pelo crescimento da direita autoritária em nosso país”, disse ainda Marta.
Após o discurso, Marta, Lula e Boulos posaram para fotos segurando uma bandeira do Brasil e a ex-prefeita fez o “L” com os dedos. Lula, Marta, Boulos e Gleisi usaram camisa branca.
Se Marta evitou falar sobre sua ruptura com o PT em 2015, Lula trouxe o tema à tona e apontou erros do partido, falando em tom inflamado.
“O PT cometeu erros. Nem todo mundo é obrigado a suportar a quantidade de erros que a gente comete”, ao falar da saída de Marta sob o argumento de que a corrupção estava corrompendo a sigla.
Afirmou também: “Em algum momento, você [Marta] ficou zangada. A Marta ficou puta comigo porque ela queria que eu fosse candidato em 2014. […] A Dilma [Rousseff] foi e ganhou e depois aconteceu o que nós sabemos.”
O presidente continuou: “Eu tenho 78 anos, sou presidente pela terceira vez, já fiz mais coisa do que eu achei que fosse fazer. E agora eu quero salvar esse partido, que é a coisa mais importante. Por isso a minha ideia de trazer Marta de volta.”
Lula fez uma analogia com o ex-jogador do Corinthians Roberto Rivellino, que, segundo o petista, deixou o clube mas nunca foi esquecido pela torcida. Dirigindo-se a Marta, disse: “Você é o nosso Rivellino da política, você continua no PT. Por isso é que foi importante trazer você de volta. Você deu muito para esse partido”.
Lula fez uma série de críticas ao partido, falou em cooptação do fundo eleitoral por deputados e cobrou reflexão sobre a queda no número de prefeituras conquistadas.
Boulos discursou atacando o autoritarismo e a extrema direita de Bolsonaro, além de apontar “completo descaso do poder público” ao falar de Nunes. “Estão construindo a frente do autoritarismo lá. Do lado de cá estão os que querem democracia na cidade de São Paulo.”
“Bruno Covas [PSDB] não foi com Bolsonaro e foi atacado pelo bolsonarismo [na eleição de 2020]. Nunes abraçou o bolsonarismo, traindo o legado de quem ele foi vice. Nosso desafio em São Paulo é construir uma frente ampla pela democracia”, disse.
“Pelo que eu vi hoje [sexta] lá em Santos, se bobear o Lula traz até o Tarcísio [de Freitas] para essa frente”, disse Boulos, em referência às risadas que o presidente arrancou do governador paulista, aliado de Bolsonaro, durante cerimônia de anúncio da construção do túnel entre Santos e Guarujá.
Boulos afirmou que o legado de Nunes é “deixar a cidade numa crise de segurança como nunca vista” e pregou que “imóvel abandonado na região central tem que ser desapropriado para fazer moradia popular”.
Por fim, ele comentou o que chamou de “intrigas” sobre a volta de Marta, mencionando os comentários sobre críticas do passado.
“Teve gente que achou que a minha dobradinha com a Marta ia criar problema. Um pensa diferente do outro, mas o que a gente quer é unidade. E unidade não se faz entre iguais, mas entre diferentes. Para aqueles que acharam que a gente não ia se entrosar, a gente vai fazer a dupla dinâmica para mudar a cidade de São Paulo.”
Haddad relacionou as gestões progressistas a iniciativas como CEUs, hospitais, corredores de ônibus, praças com wi-fi e Carnaval de rua. Ele se referiu a Boulos como “jovem talento” e “um patrimônio de todos nós”. “É um luxo para a cidade poder enfrentar essa eleição com uma chapa dessa qualidade”, discursou o ministro.
Gleisi afirmou que a eleição de São Paulo é a mais importante do país e que a cidade precisa “se reencontrar com uma gestão progressista e popular”. “Ganhar São Paulo é ganhar o Brasil”, disse. Ela afirmou que não há “caminho do meio”.
Para a presidente do PT, a chapa Marta-Boulos é a “união da luta, da combatividade e da experiência”. “Seja bem-vinda, Marta Suplicy, ao PT, seu partido”, completou.
No seu discurso, Gleisi listou marcas da gestão Marta. “Você volta num momento muito importante, junto com Boulos”, disse ela, citando o combate à extrema direita na capital e no país e afirmando que “essa gente não pode voltar”, em alusão a Bolsonaro.
Parlamentares do PT, de São Paulo e de outros estados, e dirigentes de partidos aliados, como PSOL, Rede e PDT, participaram do evento. O tom geral das falas era de entusiasmo, com a avaliação de que a chapa se fortalece com Marta e que o PT retoma o protagonismo em uma eleição crucial para o partido e a esquerda.
O deputado estadual Eduardo Suplicy (PT-SP), que é ex-marido de Marta e defendeu prévias para a escolha da vice, compareceu ao ato, após ter conversado com ela e recuado na oposição interna. Ele foi recebido por Lula nesta semana e obteve avanço nas articulações pela renda mínima no país, sua principal pauta.
Suplicy ainda cantou para o público antes do início do evento —escolheu “Eu Sei que Vou te Amar” e seu clássico “Blowin In The Wind”.
Já a ex-prefeita e deputada Luiza Erundina (PSOL), que já criticou Marta, não foi ao evento.
A Casa de Portugal ficou lotada, e houve tumulto para a entrada do público e também no acesso de autoridades à área próxima do palco. Organizadores estimaram que 2.000 pessoas acompanharam o ato e outras 3.000 ficaram para fora. O evento atrasou uma hora e meia.
Parte do público segurava cartazes de acolhida a Marta.
O diretório municipal do PT decidiu no mês passado dar aval ao regresso de Marta, em votação com 12 votos favoráveis, um contrário, uma abstenção e duas ausências. A oposição está concentrada nas correntes internas chamadas O Trabalho e Articulação de Esquerda.
Na última quarta-feira (31), o historiador Valter Pomar, líder da tendência Articulação de Esquerda, reiterou sua discordância e disse que insistirá na tentativa de fazer o diretório nacional do partido barrar a filiação. “Dia 2 Marta se filiará ao PT. Dia 3 reapresentarei o pedido de impugnação”, afirmou em seu blog. A avaliação nos bastidores é que dificilmente haverá reviravolta.
Marta fez carreira no PT ao longo de 33 anos e saiu em 2015 com críticas ao partido. Migrou para o MDB, votou como senadora pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT) e se tornou desafeto para o petismo. Decidiu, porém, deixar a gestão de Nunes, onde era secretária, para se juntar ao rival do atual prefeito na disputa eleitoral. Ela estava sem filiação desde 2020, após rápida passagem pelo Solidariedade.
Eleita prefeita em 2000 pelo PT, Marta acabou sendo derrotada por José Serra (PSDB) na tentativa de se reeleger. Disputou o comando da capital paulista outras duas vezes, em 2008 e 2016, mas não conseguiu voltar ao posto.
Marta foi ministra do Turismo no segundo mandato de Lula na Presidência, se elegeu para o Senado em 2010 e foi ministra da Cultura do primeiro mandato de Dilma, antes de romper com o PT. Ela chegou à Secretaria Municipal de Relações Internacionais depois de se engajar em 2020 na campanha de Bruno Covas (PSDB), que derrotou Boulos naquele ano.
A ex-prefeita se reaproximou de Lula e do PT a partir de 2019 e, na campanha de 2022 chegou a ser cogitada para a vice do na chapa presidencial do petista, antes da bem-sucedida articulação com Geraldo Alckmin (PSB). No segundo turno, atuou para consumação do apoio de Simone Tebet (MDB) a Lula.
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