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Arsenal comprado sob Bolsonaro ainda é ameaça

Armas apreendidas no Rio em operação da Polícia Civil e do Ministério Público

Armas apreendidas no Rio em operação da Polícia Civil e do Ministério Público Domingos Peixoto/Agência O Globo

É preocupante constatar que, a cada dia, três armas de fogo compradas legalmente por colecionadores, atiradores desportivos ou caçadores (os CACs) são extraviadas ou roubadas. No ano passado, esse número bateu recorde. Foram 1.315 casos, de acordo com dados do Sistema de Gerenciamento Militar de Armas (Sigma), do Exército, obtidos pelo GLOBO por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI).

Casos de extravio podem ser atribuídos não só ao maior número de armas em circulação, mas também à simulação de furtos ou roubos para que as armas sejam desviadas para organizações criminosas. Tal fraude tem sido corroborada pelas apreensões policiais. Em março, a polícia do Espírito Santo descobriu que um fuzil apreendido com traficantes de Vila Velha constava como furtado no Exército. Estava registrado em nome de um CAC detido depois de investigações mostrarem que abastecia o crime com armas legais.

A facilidade para compra, posse e porte de armamentos (mesmo de uso restrito como fuzis) no governo Jair Bolsonaro e as falhas no controle desse arsenal criaram um ambiente propício a fraudes. É inegável que a permissão para que um CAC tivesse até 60 armas — quem precisa de 60 armas? — facilitou a vida dos criminosos. Revólveres, pistolas e fuzis comprados legalmente passaram a chegar rapidamente às mãos de traficantes, milicianos e homicidas.

É verdade que o atual governo tenta conter a farra dos CACs e clubes de tiro. Decretos de Bolsonaro que contribuíram para promover o derrame de armas no mercado foram temporariamente suspensos. Foi determinado um recadastramento cujo prazo terminou há uma semana. No dia seguinte, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, informou que quase 1 milhão de armas (939.154) foram recadastradas. No mesmo dia, a PF prendeu em vários estados do país 52 CACs com mandado de prisão em aberto que não haviam recadastrado suas armas. São medidas sensatas, mas não resolvem o problema: o arsenal comprado legalmente continua circulando por aí.

Seria ingenuidade imaginar que essas armas estão bem guardadas e não correm risco de parar nas mãos de criminosos. A realidade mostra o contrário. Mesmo que estejam em posse de cidadãos bem-intencionados ou de agentes de segurança experientes, o risco é enorme.

Os tiroteios e os conflitos resolvidos à bala se tornaram uma triste rotina nas cidades. Num único fim de semana no Rio, sete cidadãos foram atingidos por balas perdidas em diferentes regiões — duas mulheres e uma criança de 11 anos morreram. Uma das vítimas voltava de uma festa com amigos por uma das avenidas mais movimentadas da cidade quando se viu no meio de uma perseguição policial. Outras duas eram irmãos que estavam no portão de casa numa comunidade da Zona Norte.

Pouco importa se os tiroteios aconteceram entre quadrilhas rivais ou entre policiais e bandidos. Isso não aplaca a dor das famílias. Claro, a falta de segurança não se resume ao excesso de armas. Mas elas são personagem de destaque na barbárie. Num país com altos índices de criminalidade, 1 milhão de armas em circulação — sabe-se lá nas mãos de quem — é um cenário propício a novas tragédias.

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