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Jornalista lembra entrevista em que Rita Lee fala sobre Gilberto Gil: ‘Ele é a única pessoa com quem tenho vontade de trabalhar’

Gilberto Gil e Rita Lee

Gilberto Gil e Rita Lee Cristina Granato

Ela estava com uma sacola imensa. Eu estava com uma barriga do mesmo tamanho. Era quase verão, e o sol brilhava lindo sobre a Lagoa Rodrigo de Freitas. Eu ria muito, ela ria, indo tirando as roupas de dentro da sacola, seriíssima. “Não, não, não, você não tem ideia da quantidade de roupa que criança precisa. Ainda mais bebê!”, ela dizia acenando com sapatinhos, camisetas, cueiros. “Bebê é só baba, mijo, cocô. Tem que ter muita roupa mesmo!”, ela reforçava.

Eu dizia que não, o bebê já tinha ganhado muitos presentes. Mas Rita sabia tudo. O meu bebê nasceria no começo de dezembro de 1978. Rita já não tinha o que fazer com os presentes do seu bebê de 1976. “Olha só a quantidade de roupa o bebê acaba nem usando! Essas crianças já nascem imensas! Você vai ver!”, ela ia me mostrando roupinhas superdivertidas. “Pronto, vou ser madrinha dessa criança, pode deixar”, ela disse.

Rita e eu nos tornamos amigas e comadres nessa sequência de meses e semanas que nos fizeram mães, tão apaixonadas ao mesmo tempo por nossos filhos e por nosso trabalho.

Nos anos 60, ela era uma pós-adolescente como eu, mas algo luminoso, único. A voz dela, a energia dela, o espaço dela nos palcos, por mais apertados que fossem, me acenavam com algo ousado — uma mulher num universo de homens. Eu era fã dos Mutantes, mas Rita era uma luz especial, que ecoava com as possibilidades lá de longe: Carly Simon, Carole King, Janis Joplin. Havia aquela ousadia e, ao mesmo tempo, uma presença repleta de possibilidades.

“Gil, pra mim, foi a pessoa que me deu todos os toques”, Rita me contou. Era um dia de chuva em Copacabana. Começou como uma das muitas entrevistas que fizemos, mas esta, com calma e tempo, tornou-se uma reflexão não apenas dela, de seu talento, de seu trabalho, mas sobretudo de seu lugar, a clareira que ela mesma abriu, passo a passo.

“Os toques de Brasil, de música, de composição. Quando (Gil) pegou os Mutantes e mostrou ‘Domingo no parque’ eu fiquei … tonta… estatelada… de boca aberta… era um rock, sabe, um rockaço, eu ouvia assim. Nos Mutantes, a gente não compunha, nem pensava nisso. Era só tirar as músicas dos Beatles, do Mamas & Papas igualzinho, copiando mesmo. Foi o Gil que mostrou como podia ser, que fez a gente se ligar em coisas do Brasil, que fez a cabeça da gente, mesmo. Então eu estou há muito tempo querendo tocar de novo com ele. Assim, de cara, ele é a única pessoa com quem eu tenho vontade de trabalhar. Ele, como eu, entende de eletricidade, de amplificação, sabe onde liga, onde desliga, cuida desses detalhes que muito pouca gente saca aqui no Brasil.”

Rita Lee: relembre grandes momentos da rainha do rock nacional

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Foram muitas conversas, cada uma delas um passo nessa caminhada complicada de ser mulher num espaço que não havia sido aberto para ela, para mim, para todas nós. Rita era essa clara luz, divertida e profunda, valente e doce.

O dia de hoje está gelado, cinzento. Parece Sampa.

Esta noite Rita veio conversar comigo num sonho.

Rita Rita Rita — você está em toda parte.

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